OS AMORES DE QUÉRULO UMBRANO

07/01/2023

O título é retórico; arabesco de estilo. Ao que parece o nosso esfíngico poeta árcade não conhecia muito sobre amores. Segundo Botelho da Ribeira, Omnia Opera, tomo IV, páginas 235 et sequntur: O desventurado bardo mancebo alcunhado Quérulo Umbrano teve apenas um amor; uma moça do Paço, sobrinha distante do VII Conde de Ericeira.

Parco testemunho, tal qual quase tudo a respeito da curta vida do autor. Podemos piedosamente conjecturar que o romance não teve êxito, muito provavelmente devido à diferença social entre os “supostos” apaixonados. As aspas se explicam pela possível platonicidade da relação, da parte do poeta, por certo.

Em tudo e por tudo, restam os versos. Belos e bem lavrados. A “moça do Paço” leva o pseudônimo de “Lívia”, como era de costume na época. Aqui transcrevemos uma “Décima” em versos decassílabos.

        

                                         DÉCIMA

Tais quais pássaros na noite, silentes,

E a brisa que não chega às terras quentes,

Como a estrela que o nauta anseia em vão

E o amigo que não vem, na solidão;

Qual o sono tardio em longa espera

E os dias da sonhada primavera;

Qual o lar com que sonha o peregrino;

O sentido de tudo, o seu destino,

E o amor que as entranhas me consome,

Tudo vive ao pronunciar teu nome!

 

Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)

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