O título é retórico; arabesco de estilo. Ao que parece o nosso esfíngico poeta árcade não conhecia muito sobre amores. Segundo Botelho da Ribeira, Omnia Opera, tomo IV, páginas 235 et sequntur: O desventurado bardo mancebo alcunhado Quérulo Umbrano teve apenas um amor; uma moça do Paço, sobrinha distante do VII Conde de Ericeira.
Parco testemunho, tal qual quase tudo a respeito da curta vida do autor. Podemos piedosamente conjecturar que o romance não teve êxito, muito provavelmente devido à diferença social entre os “supostos” apaixonados. As aspas se explicam pela possível platonicidade da relação, da parte do poeta, por certo.
Em tudo e por tudo, restam os versos. Belos e bem lavrados. A “moça do Paço” leva o pseudônimo de “Lívia”, como era de costume na época. Aqui transcrevemos uma “Décima” em versos decassílabos.
DÉCIMA
Tais quais pássaros na noite, silentes,
E a brisa que não chega às terras quentes,
Como a estrela que o nauta anseia em vão
E o amigo que não vem, na solidão;
Qual o sono tardio em longa espera
E os dias da sonhada primavera;
Qual o lar com que sonha o peregrino;
O sentido de tudo, o seu destino,
E o amor que as entranhas me consome,
Tudo vive ao pronunciar teu nome!
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
0 comentários