Iguatu ainda guarda suas memórias dos artistas que protagonizaram o estrelato da música e conquistaram o sucesso, fama e prestígio, se não na grande mídia, mas no coração do público local. Numa época sem internet, redes sociais, mídia eletrônica e robôs que pudessem disparar mensagens aos milhões, a banda de rock ‘Os Loucos’ liderada pelo músico Carlos César abalou as estruturas das casas de shows e clubes da época. Eram os áureos anos de 1973 a 1977. Durante cerca de quatro anos, a banda tocou, encantou e escreveu suas páginas na história da música em Iguatu e no Centro-Sul.
Carlos César, hoje aos 67 anos, está em plena forma. Multi-instrumentista, dominando com classe violão, guitarra, bateria, teclado e sua especialidade o baixo. O músico não para. Estuda música, pesquisa instrumentos, compõe e se apresenta em programas de auditório dos canais de TV da capital. No próximo dia 11 ele estará na TV Diário, a convite do apresentador Silvino Neves, para uma apresentação.
Para Carlos César, música é um alimento diário, é como o sangue que circula nas veias, “não pode deixar de fazer, nem pode deixar de exercitar, se parar, o resto para junto”. César ainda guarda o último trabalho gravado em vinil em 1990, quando reuniu em torno da obra gente experiente da música como Cassiano Costa, Jonas de Andrade, Nilton Costa, Netinho dos Teclados, Carlos Monterrey. Há cerca de dois anos, antes da pandemia, em 2019, lançou o CD ‘Tributo a Belchior’ com interpretação de clássicos do cantor como: A palo Seco, Apenas um Rapaz Latino Americano, Como nossos pais, Tudo Outra Vez, Medo de Avião, Mucuripe e outros sucessos. Curiosamente, Carlos César guarda traços físicos muito semelhantes ao saudoso artista cearense, morto há quatro anos, em 2017, no Rio Grande do Sul. Ele disse que resolveu gravar o CD, por causa da paixão pela obra de Belchior, e também incentivado pelos amigos, claro, também por sua semelhança física com ele.
Formação
Sua história com a banda ‘Os Loucos’ foi como grude, nunca mais vai largar. Foram fases muito especiais de sua vida artística na música. Hoje restam saudades e muitas histórias para contar. Carlos César lembra que foi um cara chamado ‘Cariús’, quem teve a ideia de colocar o nome de ‘Os Loucos’ na banda. Ele ainda lembra com precisão a formação do grupo: José Milton ‘Jomil’ (teclado), Pedro Fernandes/Antônio Anselmo (bateria), Chumbinho (trumpete), Pituí Queiroz (guitarra), Marcos Domingos (guitarra-base), e Carlos Cesar (baixo e vocal).
Naqueles anos de chumbo, final de uma década marcada pelas atrocidades da repressão militar, em plena ditadura ainda, a música era o único combustível que movia aqueles jovens. Quando a banda saiu do casulo e começou a lotar as festas, os integrantes caíram na graça do público. Cada apresentação era um acontecimento. Os músicos não usavam um figurino padrão, cada um cuidava do seu. Cabelos longos, sapatos de couro, perfumes de época e um jeito único de tocar e cantar que fazia crescente a legião de fãs.
Acompanhamento
‘Os Loucos’ tocaram com grandes artistas da música da época, lembrou Carlos César. Jerry Adriani, Odair José, Maurício Reis, Nelson Gonçalves, Waldik Soriano, Roberto Leal, Perla do Paraguai, Sérgio Reis. Os artistas nacionais que vinham se apresentar em Iguatu ou na região, quase sempre eram acompanhados pelos músicos da banda.
Tocar festas dançantes, fazer apresentações em clubes era rotina dos finais de semana. Viajar com a banda para tocar fora era festa. As viagens de Rural, Kombi ou ônibus eram marcantes, porque fora de Iguatu ‘Os Loucos’ também era atração. Eles não tinham disco gravado, nem espaço na TV, mas chegavam aos ouvidos do grande público, pelo boca-a-boca e pelo rádio que divulgava os shows.
Sucesso
Carlos César liderou a banda por quatro anos, até o fim das apresentações em 1977. Ele afirmou que a curta temporada foi suficiente para marcar uma época. Solos de guitarra, extensão vocal, metais vibrantes, luzes coloridas acesas no palco e a histeria dos fãs da música deles, fazia do conjunto ‘Os Loucos’ atração por onde passasse. “A gente tinha uma banda formada só por músicos de qualidade, cheios de talento, e uns caras que amavam tocar e cantar”, recordou.
Na sede da banda na periferia entre os bairros Areias e Jardim, nos dias de ensaio era atração e protesto. Quem morava perto bradava por causa do som que se espremia pelas paredes e ecoavam pelas casas. Quando alguém perguntava “o que é aquilo?”, sempre havia a pessoa para responder: “Os Loucos ensaiando”. Mas Carlos César lembra que quando a banda viajava para tocar em outra cidade, sempre havia uma música para tocar que estava ‘estourada’ na cidade. “Ali a gente pegava a música, copiava letra, ouvia os acordes, instrumentos, tudo e à noite a banda já tocava e a galera ficava enlouquecida, porque geralmente era uma música de sucesso”, contou.
A vida tem sido generosa com o músico quase setentão, e ele se diz feliz e realizado, pelo que construiu, tudo através da música. A família, a esposa Goslávia Olinda, companheira de 46 anos e as quatro filhas.
Carlos César lembrou o único show de Roberto Carlos em Iguatu, na quadra de esportes Agenor Araújo, em 1973, que se deu através dele. Amigo do empresário do cantor, José Carlos (Pinga), César intermediou a apresentação com casa cheia numa noite memorável.
Parabéns J. Guedes, pelo resgate cultural da história de Iguatu onde a Banda Musical “Os Loucos”foi um grande sucesso da época 👏👏👏👏👏👏