Os Cabeludos do Futuro

03/08/2024

Kleyton Bandeira Cantor, compositor e pesquisador cultural

Kleyton Bandeira
Cantor, compositor e pesquisador cultural

– Jaaaaaaakson!

O grito acabou com a merecida sesta naquela casa de Olaria, zona norte do Rio de Janeiro.

– Ô, Jakson, têm dois cabeludos lá fora querendo falar contigo, homem!

O aviso de Tinda interrompeu o descanso do ritmista Jakson do Pandeiro naquela tarde qualquer do ano de 1972.

Jakson, com certa insatisfação, pois andava ocupado com a divulgação do seu novo disco “Sina de Cigarra”, atendeu as visitas inesperadas.

Do lado de fora, violões em punho, estavam os dois rapazes, um de cabelo até o ombro e barba enorme, o outro de cabeleira cacheada.

Tinda, os olhando de alta a baixo, pergunta:

– O que vocês vieram fazer aqui?

– Viemos falar com seu Jakson!

Tinda, então, repetiu o olhar perscrutador, e entrou. Depois de alguns minutos, voltou, ainda desconfiada, abriu a porta e os visitantes entraram. Jakson do pandeiro os recebeu com o mesmo olhar de desconfiança do irmão e os pediu que sentassem:

– O que vocês querem?

– Jakson, nós viemos aqui lhe convidar para defender com a gente uma música no Festival Internacional da Canção, o FIC.

– Que tipo de música?

– Uma embolada.

– Então cante!

O barbudo, que tinha tomado a dianteira da conversa, pegou o violão e começou:

“Estou montando no futuro indicativo

Já não corro mais perigo

Nada tenho a declarar”

Jakson começou a ficar animado e o rapaz continuou:

“Terno de vidro costurado a parafuso

Papagaio do futuro

Num para-raio ao luar”

Jakson, fisgado imediatamente, gritou: esses cabeludos não são cabra safado, não. Eles fazem coco de embolar!

E foi assim que Alceu Valença e Geraldo Azevedo convenceram o veterano ritmista a cantar com eles “Papagaio do Futuro” no palco do Maracanãzinho, naquele que seria o último grande evento brasileiro na era dos festivais!

Você conhecia a história por trás da canção “Papagaio do Futuro”?

Bom final de semana e até a próxima!

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