Às vezes sinto uma ponta de inveja da vida dessas pessoas que vivem a aludir, insinuar que algumas outras estão, em escuso, com inveja de suas vidas.
Mas, tão logo essa centelha de inveja se esvai do meu ser quando, sem muito esforço, e nenhuma perspicácia, mas exatamente ao contrário; superficialmente, analisamos o indivíduo ”invejável”
São, em suma, tomando aqui a frase clássica do meu amigo Everton Alencar: ‘‘Seres detestáveis’’. Levam uma existência primária, dedicada às últimas tendências da moda midiática, como também seus bordões ”geniais” da última telenovela. Primam essencialmente pela aparência física, estética (mesmo que, por vezes, paradoxalmente, não atendendo às exigências ironicamente impostas por eles mesmos.
Não vou fazer qualquer menção quanto aos clássicos musicais, que de longe lembram o que seria uma boa música, tanto no aspecto instrumental quanto no que diz respeito às letras, pois acho desnecessário tal distinção. Está implícito.
A essa altura fica claro que não há como ter inveja de tais vidas, de gente rasa, de gente que acha que vida é seguimento ditado, imposto de forma mascarada.
Não, não há como invejar a imbecilidade, mas há como tolerá-los. Sejam felizes.
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Acerca do Niilismo
Não é um conceito originalmente nietzschiano, mas o referido filósofo tratou de discorrer sobre. A priori, Nietzsche não deu uma outra semântica para o termo ”niilismo’‘, mas traçou uma perspectiva relativa ao seu tempo, sobre o que seria essa ”ideia do nada.”
”Desvalorização”, talvez seja essa a palavra-chave quanto a descrença sobre a vida em sua ausência de sentido. Nietzsche acreditava que uma verdade, seja ela qual for, só pode sê-la através da descrença, do ceticismo, caso contrário, não seria, por assim dizer, uma verdade, mas somente uma vontade. E como verdade e vontade não são, obviamente, a mesma coisa, a crença obstruiria, a seu ver, o conceito de uma verdade.
Partindo desse princípio, o filósofo nos convida a desfrutarmos, como por vantagem, da vida sem sentido, da vida sem razão. Não como loucos néscios, mas como prudentes conscientes, ainda que não abandonando a loucura.
A vida sem sentido nos oferece uma possibilidade ímpar: a de darmos um sentido a ela.
Nisso, concluo que, a meu ver, o niilismo nietzschiano, esboçado aqui de modo vago, sempre oferece o ‘‘nada’’ que pode ser o ‘‘tudo’’.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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