Por muito tempo – mais do que gosto de admitir – persegui o ideal do amor romântico. Os românticos, como se sabe, não viveram o suficiente para ver suas “ilusões perdidas”. A qualquer homem com bons olhos, basta o passar dos anos para que se perceba que amores, amigos, apreço pelos familiares etc, tudo isso se esvai. Lei da inércia. Se você tem o saudável hábito de ler os grandes pensadores, verá que esses itens nunca constituíram grande tema para eles.
O que tem me intrigado há algum tempo é a comunicação entre os homens. Você já deve ter se deixado enfeitiçar pelos flashes de fotos românticas; ou por “selfs” de amigos inseparáveis. O que nem um nem outro mostram é o profundo abismo que há entre os seres que aparecem, sorridentes, nas fotos. Simone Well certa vez disse que a amizade é um milagre. Daí ser, para ela, perda de tempo a procura por um amigo. E trata-se de um milagre pois que a amizade verdadeira é a única capaz de diminuir, ainda que pouco, o abismo entre os homens.
Passada a impressão das faces alegres dos amantes, ao se perfurar essa camada ilusória, vemos um fosso de comunicação. Alguém poderá dizer que ninguém vive todo o tempo contente em ter outrem; que o sacal da vida é importante etc. Mas não estamos falando do ideal aqui. Nem de um mundo utópico em que todos estão sempre felizes. Estamos falando de algo que foi construído, ao longo da história humana, para ser usado por seres razoáveis: a saber, a comunicação.
Então, cabe a pergunta: por que existe esse abismo intransponível? Por que, como diz uma canção popular, se fizermos uma lista de grandes amigos de dez anos atrás poucos ou quase nem um “sobreviveu”? Michel Houellebecq diz que a amizade entre dois homens adultos héteros, por exemplo, não têm razão de ser. Talvez esse diagnóstico sinistro seja um sintoma do nosso tempo.
Marcos Alexandre: Pai de Edgar, leitor, Professor de literatura e redação, cinéfilo e aspirante a escritor.
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