Pais de trigêmeas migram para o sertão a fim de evitar contaminação

09/05/2020

A história típica de livro e filme envolve uma família que migrou da capital Fortaleza, no início de abril, para o interior, com a finalidade de isolar os filhos, quatro meninas, as trigêmeas Maria, Gabriella, Maria Evellin e Maria Júllia, e a 4ª irmã, Marry. Elas são filhas do casal Nicole Rodrigues e Márcio Fernandes, ambos com 38 anos.

A família está morando na localidade de Cachoeira dos Fernandes, zona rural do município de Cedro, onde residem os pais de Márcio, Zé de Horácio (transplantado de medula óssea há quatro anos) e a matriarca da família, dona Josefa Fernandes ‘Zezinha’. O pai das meninas, desde novembro de 2019, está trabalhando na localidade de Várzea da Conceição, Cedro, como fiscal de obras. Ele vivia em Fortaleza com a família e por razões de trabalho foi o primeiro a migrar para o interior, retornando à localidade de seus pais.

A mãe Nicole, com as trigêmeas, Maria Jullia, Maria Evellin e Maria Gabriella

O lugar é típico de cenário de minissérie ou filme. A casa grande encravada no alto do morro, a água cristalina do lago, ao lado as formações de pedra, cascatas e cachoeiras. Lugar que é sonho de qualquer infância. Certamente as trigêmeas e Marry nunca esquecerão a aventura vivida. Longe da escola pública onde estudam por causa do isolamento social, e com as aulas suspensas, as meninas compensam a falta da rotina na cidade ocupando o tempo entre as brincadeiras, estudos e o apreciar da natureza exuberante do lugar.

Rádio, vídeos e ar livre

A mãe Nicole mantém contatos permanente com a escola, pelo WhatsApp, por onde recebe informações e orientações pedagógicas para as tarefas escolares diárias. Nicole relatou que as meninas ocupam o tempo ouvindo rádio, na manhã ouvem oração com o Pe. Reginaldo, pela Rádio Jangadeiro FM de Iguatu, e fazem reflexão em família usando a Bíblia, depois, brincadeiras ao ar livre. À tarde, tarefas escolares e passeios na mata verde, perto de casa, conhecendo de perto a rica natureza do lugar fazendo contato com bichinhos, pequenos animais, e até fazendo vídeos para compartilhar com as amigas de escola e outros familiares que ficaram na cidade. No fim de tarde, as quatro irmãs gostam de cantar músicas de ciranda e ensaiar coreografias. Enquanto elas cantam, é a vez da mãe coruja fazer os vídeos, um registro vivo desta fase inesperada de suas vidas.

As trigêmeas, Jullia, Evellin, Gabriella e a outra irmã, Marry, com os pais, Nicole e Márcio, os avós, Zé do Horácio e Zezinha, no distrito de Várzea da Conceição

Proteção

Os pais acreditam que as belezas da serra, o canto dos pássaros, o brilho das águas, o ar puro, a tranquilidade, os animais, a mata verde, e todo encanto da vida no campo, amenizam os impactos psicológicos do isolamento social nas quatro irmãs, e até o medo do inimigo invisível. Além de isolar as filhas do risco iminente de contaminação pelo coronavírus, Márcio e Nicole, indiretamente, protegem suas princesas da rotina bizarra vivida atualmente na cidade, com o desemprego, miséria, violência, o noticiário diário de doenças, óbitos e o caos instalado no sistema de saúde. Eles preferem oferecer às filhas um mundo em que elas enxerguem, nem que seja por uma moldura simples, a vegetação nativa, o chão batido do sertão, o canto alegre dos pássaros, a simplicidade da vida no campo, cor, harmonia e a calma do lugar, sem a agitação, o barulho, estresse e os perigos da metrópole. “Aqui sei que estamos protegidos do mal que está assolando o mundo. Mas não deixamos de ter cuidados sempre lavando as mãos, com água e sabão, e usando o álcool 70%, e higienizando todas as sacolas de utensílios que chegam”, disse Nicole.

Bálsamo e alento

A mãe explicou que a família viajou para o interior no dia 07 de abril, depois que o pai dela, Antônio Rodrigues, 70, faleceu vítima de uma pneumonia. Segundo Nicole, seu pai já estava convalescente há mais de 60 dias. Ela disse que o motivo de ainda estar na capital era o fato do pai ainda morar lá, então com a partida dele, era hora de arrumar as malas e migrar para o interior. A saudade da mãe Maria e dos irmãos que ficaram para trás é o sentimento que ainda faz doer, por outro lado, olhando para a felicidade das filhas e percebendo que a mudança está ajudando até a família estar mais unida, é como um bálsamo para o coração doído e um alento para a alma. “A harmonia familiar transborda na vida gerada e educada. Cada criança que é gerada, é um grande dom de Deus, por isso cuido das minhas crianças com amor e orgulho”, disse.

Porto seguro

Nicole é o tipo da mãe digna de todas as homenagens. O nascimento das quatro filhas norteou sua vida. A profissão dela é cuidar das quatro meninas. Abriu mão de qualquer emprego por entender que o porto seguro para a prole feminina é sua presença em cada momento e cada fase da vida delas. “Com tantas princesas para cuidar não posso trabalhar, e tenho medo de deixar minhas filhas com alguém, penso assim, se com uma criança as pessoas cuidadoras maltratam, imagina cuidar de quatro”, finalizou.

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