“Bora, bora, bora, bora, bora… meu povo”. Era desse jeito exagerado mesmo que Bibi Lemos gostava de se comunicar com as pessoas. Aonde quer que fosse, essa chamada com a voz inconfundível era a marca registrada do comunicador que nos deixou recentemente, no dia 03 de janeiro, vítima de infarto enquanto se recuperava da Covid-19, no Hospital Agenor Araújo, em Iguatu. E a certeza que Ubiracyauri Lopes Lemos, carinhosamente chamado de ‘Bibi Lemos’, deixa como seu legado é a alegria e dom de se comunicar, um mestre das propagandas de rádio, sempre carregadas pelo bom humor e criatividade.

“Como eu sou fã número um do meu pai, sou suspeita a falar. Para mim, o carinho e o respeito que as pessoas sempre tiveram com ele nos confortam nesse momento tão difícil. Desde já, quero agradecer também a todas as pessoas da parte da comunicação que tanto demostraram respeito e admiração pelo meu pai. Sou muito grata e quero muito ser essa pessoa que vai continuar, que não vai quebrar elo, que vai continuar a fazer bagunça, barulho, zoada…. Vou dar continuidade ao sonho, à brincadeira gostosa do jeito que meu pai fazia. Então eu quero continuar sendo essa pessoa que, para mim, a comunicação é uma brincadeira gostosa como vi meu pai fazer a vida toda”, declarou Jordhana Lemos, 36, herdeira mais direta do estilo e jeito de se comunicar que Bibi fazia.

“Por mais que ele não me apoiasse nisso, ele deve estar rindo pra caramba. Ele me chamava de Dandinha. Vai cuidar de tua ‘radinha’, vá cuidar de maquiar, não queira se envolver com rádio não [risos]”, relembrou Jordhana, maquiadora profissional e comunicadora, uma das herdeiras do legado deixado por Bibi, referindo-se que mesmo tendo acompanhando o pai desde a infância e aprendido com ele a gostar da área da comunicação, ele gostava de ver a filha maquiando, ajudando a realçar a beleza das pessoas.

Apoio

Mas “filha de peixe, peixinho é”, como diz antigo ditado popular. Além de Jordhana, Bybyanne e Iraci, filhas do primeiro casamento de 25 anos de Bibi com Veneida Matias, também herdaram o tino para comunicação, cada uma seguindo um segmento diferente. Bybyanne Lemos, 31, publicitária, redatora que trabalha em Fortaleza, em uma agência de publicidade e propaganda. Já Iracy é jornalista e fotógrafa, atualmente mora no Canadá.

“Eu cresci com painho me chamando para assistir aos melhores comerciais da TV em um programa que passava num canal aberto, tão desconhecido que eu nem lembro o nome. Aqueles comerciais geniais, as histórias que ele criava, acompanhar cada processo de criação dele e o quanto aquilo me enchia os olhos e o coração, foi o que me construiu como pessoa e profissional. Hoje sou formada em Publicidade e Propaganda e ainda escuto ele falar. ‘Seja o que você quiser, minha ‘fia’. Mas trabalhe pra ser a melhor!”, relembrou Bybyanne, ressaltando a influência que o pai fez com que seguisse na profissão que atua. “Painho sempre me apoiou em tudo que eu escolhi fazer. Eu quis dançar na escola e painho fez todos os efeitos em áudio pra apresentação. Eu quis ser cantora e ele estava lá em cima do palco pra apresentar a primeira vez que a minha banda tocou em público. Eu quis ser jornalista e seguir no rádio e ele estava sempre compartilhando minhas vitórias como se fosse as dele. O que painho sabia, porque eu nunca deixei de dizer isso a ele, é que ele era a minha maior inspiração artística e de amor por aquilo que faz. E que isso ainda irá ecoa por muitas gerações em nome dele, porque minha filha sempre irá ouvir todas as histórias incríveis sobre o avô dela”, ponderou Iracy Lemos Neta, 33, jornalista e fotógrafa que mora no Canadá.

E é justamente isso. Na criação de um filho, o pai transmite tantos valores que acabam fazendo daquela criança um adulto capaz de ser referência de quem o educou, muitas vezes segue a profissão, por tradição ou paixão. “Todas nós três temos um bem querer maravilhoso, que é a nossa rádio Centro via cabo, fundada por ele, há quase 30 anos, que hoje é da minha mãe. Onde tudo foi gerado, um sonho, as conquistas. Nosso berço é a rádio, a comunicação. A gente sempre teve uma ligação muito forte com isso, que nosso pai nos educou para isso, nos inspirou. Passamos toda nossa infância, adolescência. Eu por ser mais apegada ao meu pai, por estar aqui, minhas irmãs moram fora, eu tive mais contato, mais convivência”, afirmou Jordhana que também é responsável pela parte do marketing, divulgações e toda parte de publicidade da rádio Centro.

“A gente desde pequenininha tem essa coisa de estar gravando. A gente grava comerciais, produz, cria, então é uma continuação desse talento todo que meu pai era”, que dividi ainda o amor pela comunicação com a área da beleza, trabalho de maquiadora profissional. “Era o maior desejo do meu pai, ao contrário do meu desejo. Eu sou apaixonada por comunicação, por rádio, tem também essa minha paixão por maquiagem, fui a primeira maquiadora que de certa forma revolucionou muita coisa na produção artística dessa área aqui na cidade, formei alguns profissionais que hoje estão bem à frente de onde eu parei. Ele sempre nos colocou nessa parte da comunicação, mas sempre nos protegendo”, contou Jordhana que além de atuar na rádio da família também já trabalhou em outras emissoras de rádio, internet e TV local, ressaltando também o apoio que recebe do padrasto Itamar Nascimento, que tem dado muita força. “É o cara que me apoia, me bota pra cima, me direciona também no caminho da comunicação. Sou muito grata a ele, que ao lado da minha mãe administram nosso xodó, nossa rádio Centro”.

Legado

“Eu cresci vendo o trabalho dele, sempre fui presente em seu trabalho, a gente não tinha noção da importância do trabalho dele, quando menor. Hoje, vejo todo o esforço e dedicação que ele tinha com a profissão, respeito e profissionalismo que sempre teve. Um legado mesmo, acho que essa é a palavra, tomei isso como um exemplo para minha vida profissional”, disse emocionada relembrando da boa relação que sempre teve com o pai, afirmando que irá seguir o bom legado deixado por Bibi Lemos. “Ele era uma referência em tudo que fazia, além da rádio Centro, foi sócio da X FM, com Paulinho Neto, trabalhou em outras emissoras de rádio, criou também aqui uma bicicleta volante que fazia comercial pelas ruas da cidade. E a voz dele ecoou e ainda continua ecoando por várias partes do Brasil, principalmente na região nordeste. Ele tinha clientes espalhados por todo canto, que apostavam no jeito dele irreverente e criativo de vender. A internet ajudou muito nesse trabalho dele. As pessoas enviavam somente as informações principais e o restante era tudo da cabeça dele. Além das campanhas políticas em que ele arrastava multidões, com a energia, a garra e alegria dele. Em todo o contexto da identidade do meu pai, por mais que eu tenha que dar continuidade a esse legado, ninguém nunca vai conseguir chega a fazer como ele. Nem eu mesma. Papai tinha uma identidade muito forte no profissionalismo dele. Mas eu tenho a energia, a vontade, quem sabe né?”, ressaltou Jordhana Lemos.

Bibi deixou esposa e outros três filhos.