Muitos dizem lutar contra o sistema vigente, não é mesmo? Acreditam firmemente que o sistema capitalista é o responsável direto pelo suposto aviltamento da dignidade da pessoa humana; responsável pela expropriação da força de trabalho. OK, pouparei os pormenores marxistas entoados amiúde pelos seus pupilos fervorosos e pseudos. Em suma, são questões genéricas dessa natureza. Não há tempo para esboçar as defesas dessa corrente filosófica do referido alemão. Ao invés disso, será mais eficaz, penso, apontar o arquétipo dos defensores de tal linha de pensamento.
Grosso modo, como o caro leitor deva supor, o indivíduo que sustenta tal corrente, entende que o sistema seja algo a ser superado. Só não se sabe exatamente por qual via: socialista, comunista ou talvez uma terceira alternativa ainda não existente sequer na sua forma teórica precípua. Ela simplesmente inexiste. Não germinou em qualquer parte das “subpastas” ideopolíticas, ao que se sabe.
A ausência de um norte. Esse campo abstrato sempre povoou pensamento dos marxistas. Aliás, a própria concepção sobre mais valia (refutada brilhantemente pelo economista sr. Ludwing von Mises [1881-1973]) só existiu na cabeça fértil do sr. Karl Marx (1818-1883) e seu fiel escudeiro Friedrich Engels (1820-1895). Ao que parece, o hábito de transferir a culpa e responsabilidade ao outro é algo recorrente na ideologia esquerdista. E isso se expressa na ideia incongruente de liberdade/dependência do Estado.
Sim. Há algo que sempre me deixou irrequieto. A essência revolucionária enseja a tomada de poder orientada pelo proletariado. A superação do sistema! O fim da propriedade privada! A sonhada derrocada do capitalismo! Por fim seria uma sociedade comunal quem determinaria o que seria produzido, por quanto e para quem seria produzido! Isso é, além de uma impossibilidade absurda, um paradoxo, perceba, caro leitor! O revolucionário deixa passar desapercebido que a sua suposta liberdade, na verdade, é exatamente a perda da sua individualidade, da sua autonomia! Perde-se, invariavelmente, o seu poder de decidir livremente sobre o que comprar, onde comprar e tudo mais que se possa entender como liberdade de compra e o direito de decidir sobre qual é a sua verdadeira necessidade e como saciá-la sem a intervenção de um sistema, seja ele qual for.
Ou seja: o indivíduo critica o Estado, mas anseia por um assistencialismo paternal inflado. Querem direitos máximos e deveres mínimos. E é aí onde reside precisamente o paradoxo da liberdade. Não encontro sentido em ensejar a liberdade e, ao mesmo passo, não largar o seio materno do protecionismo estatal. Não se consegue, agindo assim, uma liberdade genuína.
Não se deixe enganar, preclaro leitor, todo e qualquer Estado excessivamente protecionista, digo, para além dos seus deveres constitucionais, carrega em si o despotismo característico desse modus. O absolutismo provedor é indissociável da tirania. Não há nada gratuito ofertado pelo Estado, seja ele qual for. Ou você é livre ou é protegido e, ao mesmo tempo, aviltado. Você escolhe! Paremos de acreditar nessas utopias que, de tão infantis, jamais deveriam ter sido levadas a sério em qualquer momento da história.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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