Parcerias fazem renascer a tradicional cultura do algodão

03/07/2021

O primeiro ‘Dia de Campo da Cultura do Algodão Tradicional – BRS 286’ aconteceu na propriedade do agricultor José Matias, no Sítio Retiro, zona rural deste município, na quarta-feira, 30. O evento foi realizado pela Secretaria do Desenvolvimento Agrário de Iguatu, em parceria com a Universidade Federal do Cariri – UFCA, representado pelo professor do curso de Agronomia e coordenador do Projeto ‘A Volta do Ouro Branco’ no Estado do Ceará, Dr. Sebastião Cavalcante, além da participação da Dra. Francieli da Silva, da empresa Semilla Sementes, entre outras entidades e autoridades que estiveram presentes.

Durante o encontro, agricultores fizeram a demonstração de como é feita a colheita manual dos capuchos. A apresentação técnica da cultura foi apresentada pelos representantes da empresa parceira e da UFCA.

Em Iguatu, atualmente estão plantados cerca de 6 hectares da variedade tradicional BRS 286 e 15 hectares da variedade transgênica BRS 433, segundo dados da Secretaria do Desenvolvimento Agrário. “O objetivo desse encontro foi mostrar para os produtores e para as entidades representadas, falar dessa variedade convencional, que é mais voltada para a agricultura familiar. Essa variedade tem capacidade de produção em média de 325 arrobas por hectare, em condições ideais de cultivo, bem manejada, bem acompanhada”, apresentou Venâncio Vieira, gestor da pasta, ressaltando que a expectativa de colheita para essa área experimental seja de até 180 arrobas.

Outro fator importante é o preço do algodão, em média varia entre R$ 45 a R$ 50,00. Ano passado, no mercado a arroba estava na casa dos R$ 30,00. “Esse ganho é devido à entressafra na região do Cerrado, que produz muito algodão. Isso mostra que, sim, é possível plantar algodão, seguindo as orientações técnicas, fazer o plantio e toda condução com acompanhamento técnico. O município dispõe dessa orientação. No caso dessa área foram utilizados somente produtos bio-seletivos, quer dizer, sem prejudicar a saúde humana e nem degradar o meio ambiente. Tudo isso mostra que é possível plantar o algodão aqui”, ponderou Venâncio.

Originalidade

De acordo com o que foi apresentado, essa variedade convencional é voltada principalmente para a agricultura familiar, para cultivo em pequenas áreas. Em média, num lote com 1 hectare, por exemplo, são investidos cerca de R$ 2 mil. “Isso a própria família pode fazer esse trabalho, sem precisar contratar mão de obra. Com isso, o produtor tem essa oportunidade de ter essa economia, com custos reduzidos. O lucro com certeza é viável”, ressaltou Vieira.

É isso o que espera seu Eliomar, na pouca área de terra que tem, ter uma boa produtividade. “Estou vivendo aqui, lembrando do passado, fazendo essa colheita do algodão, é um resgate da nossa cultura, mostra a nossa originalidade. Essa é uma pequena área, dá para gente colher com as mãos como antigamente. Plantei para o mostrar que ainda é viável o cultivo do algodão, que tão importante foi para nossa economia. Estou satisfeito e me sinto feliz em poder dar continuidade a esse processo tão rico culturalmente. Antigamente a gente via os campos cheios de gente catando o algodão. Hoje as pessoas poderiam voltar a cultivar ainda mais, até porque tudo é mais fácil com as máquinas, e o melhor que a gente também consegue controlar o bicudo”, ressaltou o agricultor José Matias, mais conhecido por Eliomar.

“Muitos agricultores ficaram com um trauma do plantio do passado, por causa do bicudo. Agora nós plantamos controlando o bicudo. As chuvas estão sendo favoráveis para a produção do algodão. Estamos vendo aqui uma produção boa. O bom desse projeto é o retorno da cultura. Uma cultura que mesmo na seca traz uma rentabilidade, é um dinheiro certo. O algodão é certeza da produção, ou menos ou mais”, apontou o professor explicando que o trabalho do projeto gira em torno de uma cadeia produtiva, com o fornecedor da semente, do produto que vai combater a lagarta, o comprador certo, que são as usinas, a assistência técnica da prefeitura treinada pela universidade. “Fechamos a cadeia produtiva, só falta o agricultor acreditar e trabalhar”.

Sebastião Cavalcante, professor da UFCA – Universidade Federal do Cariri

“Esse um momento muito satisfatório em poder ver o agricultor colhendo o algodão. É um momento importante, nós sabemos que Iguatu que entre as épocas de 60 a até 80 foi grande produtor de algodão nacional. Nós deixamos de fazer essa cultura, mas juntamente com a Secretaria de Agricultura estamos de portas abertas para receber os agricultores e vamos continuar incentivando o plantio do algodão em nosso município”.

Franklin Bezerra, vice-prefeito de Iguatu

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