Passos na praça, passeio na comunidade, ou, a 7 de Setembro como eu vejo

09/11/2019

Depois saí da Carnaubinha, nesses dois anos e pouco que eu moro na 7 de Setembro aprendi de novo o que é comunidade.

A primeira coisa da 7 que me faz saber que é uma comunidade de verdade é que a noite as crianças brincam na Praça e antes do sol se pôr as cadeiras já conversam nas calçadas.

Além disso, como toda comunidade, as pessoas não precisam saber os nomes umas das outras para se cumprimentar.

Elas têm nome sim, talvez se conheçam, talvez não, mas se cumprimentam.

Na esquina da fábrica de Raimundinho do Fumo tem o guarda (ou os guardas) para retribuir um bom dia, boa tarde ou boa noite a quem passa.

Vizinho à fábrica mora uma senhora que tem quase 80 anos e roda a cidade toda em uma Caloi sem marchas. E eu sofro num percurso desses na minha Caloi com marchas.

Quando ela me cumprimenta é como uma injeção de ânimo.

E ela tem um sorriso forte e vistoso como um outdoor. Não tem como não reparar nas pessoas, e isso também é comunidade.

A Praça em si pode parecer só uma praça para quem não é da comunidade, mas para quem precisar de ajuda lá, pode gritar por Socorro e com certeza vai ser atendido.

Que eu sei são cinco Socorros ao redor da Praça e cada uma faz um café diferente, se for para conversar, ou um chá, se for para acalmar.

Mas em se tratando de café, o que eu mais gosto, não nego, é o de Dona Cosma, que também faz o capuccino da Câmara dos Vereadores.

Depois da casa de Cosma, no cruzamento da 7 de Setembro com Luzia Moreira, fica o bar do JP. Nunca perguntei se esse é o nome do bar, mas é assim que eu chamo e dá certo. Isso também é comunidade

Lá sempre tem algum som tocando e varia um bocado. Amado Batista, Fagner ou alguma coisa moderna que eu não sei o nome, mas o pau que rola mesmo é mais para amado Batista e Fagner.

Eu gosto do bar do JP e do JP e daquela esquina.

Do outro lado praça, tem um contraponto, um morador que coloca uma caixa de som na calçada, senta confortável em uma cadeira de balanço e vai ouvir seu rock dos anos 70, 80 e por aí vai. Já até fiquei sentado na praça compartilhando o som.

Nessa esquina parece que o mundo todo passa sem saber muito bem o que está acontecendo.

O Código de Trânsito Brasileiro simplesmente não existe nesse pedaço pequeno, que volta e meia causa um susto, mas nunca um acidente grave (eu acho).

Se você continuar no caminho do cemitério, para onde a vida leva, vai passar por outras casinhas e cadeiras nas calçadas.

Mais pra frente um pouquinho, quase em frente ao emblemático Bar Catarina, tem a casa do Lula (o Lula mais livre que eu conheço), e uma família grande, uma grande família, uma Família.

Depois da casa do Lula a gente chega ao cemitério das histórias de Zé Coveiro, muitos nomes e histórias por aquelas mãos.

E parece que a 7 também finda no cemitério.

Depois que a 7 fica para trás, é como não estar mais em casa, em comunidade, e a cidade parece que é outra, tem outro ritmo, outras pessoas.

E mesmo Iguatu não tendo multidão para se perder, mesmo às vezes parecendo um deserto, a gente sempre se sente um pouquinho perdido.

Jan Messias é radialista, fotógrafo e estudante de direito

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