Cresce em ritmo considerável o número de golpistas que dizem, agora, ser contrários aos atos de vandalismo do bolsonarismo raiz. São funcionários de bancos oficiais, servidores públicos, militantes de extrema direita e empresários dos mais variados níveis veiculando através da rede vídeos e outros formatos de posts em que se retratam, humilham-se ou negam com os dedos em cruz qualquer envolvimento com os atos terroristas contra o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e, de forma ainda mais devastadora, o Supremo Tribunal Federal.
Entre nós, nos limites do estado do Ceará, mesmo políticos tradicionalmente metidos a destemidos, a exemplo do deputado federal André Fernandes, cujas participações na organização dos atos criminosos eram alardeadas na rede com vídeos e mensagens vazadas no estilo agressivo e desrespeitoso que marca a sua trajetória pública, lança mão do mesmo canal para se retratar com desculpas esfarrapadas: “Nem em Brasília estava. Soube de tudo através da imprensa!”, afirma, numa performance entre cabotina e frouxa.
O fato, além de revelar a dimensão do mais deslavado cretinismo, como é próprio dessa corriola de vândalos, serve para evidenciar que o país se ressentia de medidas firmes dos ministros do STF a fim de que a democracia brasileira não sofresse tantos ataques na linha do que se pôde ver nos últimos anos. Nesse sentido, a figura do ministro Alexandre Moraes destaca-se com brilhantismo, e a ele se deve em grande parte a preservação do Estado democrático de Direito, o combate decisivo contra a impunidade reinante no Brasil e a consolidação dos mais sublimes valores democráticos. Em meio a um festival de ilicitudes e omissões covardes da parte de muita gente a quem cabia salvaguardar a nossa Constituição, o ministro Alexandre Moraes agiganta-se à luz de medidas por ele adotadas no sentido de que sucessivas tentativas de golpe de Estado sejam frustradas.
Em face de tudo isso, é compreensível que o ex-presidente e seus apaniguados estejam a tremer nas bases diante da perspectiva concreta de que venham a pagar pelos males feitos ao país na extensão dos quatro últimos anos. Em relação ao que se viu nesse domingo 8, já são mais que uma simples hipótese as ligações do ex-presidente com os fatos ocorridos, quer pelas ameaças inerentes a suas falas no famigerado cercadinho e nas lives dirigidas a seus apoiadores, quer pela articulação propriamente dita no sentido de dar corpo a um movimento orquestrado com a cumplicidade do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, e do seu então secretário de Segurança e homem de confiança de Jair Bolsonaro, Anderson Torres.
O certo é que o grito de “sem anistia”, que aos poucos se espalha pelos quatro cantos do país – e ganha maior força com os acontecimentos de domingo – aponta de fato para a até então improvável punição ao ex-presidente e seu entorno. Não bastasse o que já é possível concluir de integrantes do STF, na presunção de que estamos diante da existência de uma organização criminosa da qual faz parte Anderson Torres, como explicar sua ida à Flórida na mais que explícita motivação de encontrar-se com o ex-presidente Jair Bolsonaro? Sendo mais claro: como sustentar-se na hipótese de que somente os vândalos executores do plano criminoso sejam investigados, submetidos ao devido processo legal e punidos?
Conclusivamente, pode-se ver que o tiro saiu pela culatra. No objetivo de provocar o caos que ensejasse uma intervenção militar, o plano nefasto do bolsonarismo raiz empurrou a sociedade civil ao encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e deu inequívoca materialidade ao que se ouviu dele por ocasião do seu pronunciamento de posse: “Não carregamos nenhum ânimo de revanche contra os que tentaram subjugar a nação a seus desígnios pessoais e ideológicos, mas vamos garantir o primado da lei”.
Desde domingo, como é possível ver, em que pese a monstruosidade do estrago, o Brasil parece reencontrar-se com a normalidade, e são agora incontrastáveis as provas de que é ilegítimo o movimento que põe em questão a eleição de Lula. Os crimes do bolsonarismo contra as instituições democráticas, uma realidade.
Álder Teixeira é Mestre em literatura Brasileira e Doutor em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais
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