Perfil: Antonieta Gonçalves Reis

27/03/2021

Por Emmanuel Montenegro
Jornalista e Biógrafo  

Antonieta Gonçalves Reis nasceu no sítio Sabonete, zona rural do município de Acopiara, em 16 de janeiro de 1953, filha do casal de agricultores Antônio Gonçalves Reis e Marieta Gonçalves Vieira. Aos oito anos, chegou com a família para morar em Iguatu, onde construiu grandes laços afetivos e deixou registrada na história da cidade uma trajetória de trabalho e empreendedorismo. Mulher forte e batalhadora, Antonieta foi responsável por criar o restaurante Mahalos – um dos primeiros a oferecer um cardápio refinado, em funcionamento na década de 1980, no Clube Recreativo Iguatuense – e o Camarim Modas, hoje Camarim Boutique. Ainda produziu disputados desfiles de moda no CRI e teve destacada atuação como chefe de gabinete de deputados na Assembleia Legislativa do Ceará.

Mas voltemos à infância da menina Antonieta no sítio, feliz e sem grandes preocupações. No Sabonete, plantava-se o algodão, que era vendido para as indústrias de beneficiamento do circuito algodoeiro da região Centro-Sul e do Cariri. Com o pai, ela aprendeu sobre princípios e valores como honestidade, caráter e humildade. “Além de plantar, ele também comprava e revendia o algodão, de lá saíam carradas em caminhões. Minha mãe pesava, despachava os fornecedores; e cuidava da alimentação dos trabalhadores, umas 150 pessoas, homens e mulheres, arroz, macarrão, fumo. Moravam todos no sítio. Papai fazia com que a gente se socializasse com as pessoas mais humildes, os trabalhadores, então eu tenho um lado muito humilde, muito humano”, conta Antonieta.

Na mudança para Iguatu, foram morar em uma residência na rua 15 de novembro e, posteriormente, na rua Senador Pompeu, na praça da Matriz. Nesse ponto, a família estava completa, com os nove filhos de Antônio e Marieta: Antônio Filho, José, Maria Ivoneide, Eliete, Antonieta, Francisco (Tico), Maria Auxiliadora (Dorinha), Luiz Hernandes (Lula) e Sílvia (Silvinha).

Antonieta foi matriculada no colégio São José, em sistema de internato. “Eu sempre fui muito ‘moleca’, era a melhor aluna, mas também a mais traquina, eu pedia a chave da moto do padre Geraldo, professor, e saía para dar uma voltinha, e demorava, ele ficava doido, todo mundo ficava doido me procurando; quebrei uma santa uma vez, tinha uns 16, 17 anos, não sei por que quebrei, mas chorei muito depois. Lembro das gincanas culturais entre as escolas, a gente corria feito uma desesperada para cumprir a tarefa; teve uma que a gente ganhou e o doutor Edson, diretor do Rui Barbosa, não aceitou a nossa vitória. Eu subi no palco do auditório e tomei o microfone das mãos dele, falei coisas que hoje eu não falaria. Depois queimei a barraca que a gente fez de palha de coco, eu fiquei revoltada.”

Aos 20 anos, ela foi estudar no colégio Pio XII, conceituada instituição de ensino em João Pessoa, Paraíba, onde morava em uma espécie de república para moças, com as irmãs Ivoneide e Eliete e amigas de Iguatu, Quitéria, Irismar e Maria. “A gente sempre tinha que ir estudar fora, papai mandava todos.” Viveram por três anos na capital paraibana, até que Ivoneide conheceu o engenheiro paulistano Henrique, casando-se com ele e indo morar em São José dos Campos, interior paulista. Nesse ínterim, a família passou por uma perda grande. José faleceu, vítima de acidente de automóvel na rodovia que liga Iguatu a Acopiara. Antonieta decidiu ir morar com a irmã em São José dos Campos, no ano de 1973, lá ficando por uma década.

“Eu cheguei e com três dias comecei a trabalhar em uma imobiliária, como secretária executiva, fiz o teste e passei; era a melhor da cidade, Imobiliária Freitas. Papai não queria que a gente trabalhasse, queria que a gente estudasse, mas eu insisti. Eu morava vizinho à imobiliária, do comendador Possidônio José de Freitas, levei ele e a família para conhecer Iguatu e meus pais. Fiz muitas amizades no meu ambiente de trabalho que até hoje eu conservo.”

Antonieta prestou vestibular para Medicina em Mogi das Cruzes, a uma hora de distância de São José dos Campos, mas não passou. Ingressou depois nos cursos de Administração, Economia, Direito, Assistência Social e Psicologia. “Estudava seis meses e não continuava. Hoje eu me arrependo, Psicologia tem muito a ver comigo”, declara.

Moda e restaurante

No ano de 1982, ela resolveu retornar à casa paterna. “Chegando em Iguatu eu falei: ‘pai, deixa eu montar uma boutique?’. Ele disse: ‘como?’. Eu fui sócia com uma amiga, a Marlene Carvalho, de uma boutique em São José dos Campos, em paralelo a imobiliária, e já estava no ramo, conhecia todas as marcas.”

Em 1983, foi inaugurado em Iguatu o Camarim Modas, construído no espaço da garagem nos fundos da casa da praça da Matriz, com entrada pela rua Floriano Peixoto. “E logo se tornou referência, nosso relacionamento com as clientes era de amizade. Eu já sabia o gosto de todas, já trazia as roupas e os sapatos certos, de marcas franqueadas, Yes Brasil, Hamuche, marcas infantis, moda praia, muita coisa. Até hoje continua o Camarim, o nome muito forte, escolhido a dedo, local onde as pessoas mudam de roupa no teatro, antes e depois de se apresentar. Valmir Produções desenhou a marca. Silvinha deu continuidade, com o respeito à nossa clientela, ela não vende para ninguém o que não compraria. Isso é fundamental para o Camarim estar mantendo a sua essência, são mais de três décadas e hoje está mais vivo do que nunca.”

No correr da década de 1980, o Camarim Boutique promoveu desfiles de moda no CRI. “Eram desfiles de alta produção. Valmir fazia a passarela, tinha iluminação e efeitos de fumaça. Eu trazia modelos de São Paulo e de Fortaleza”, relembra Antonieta.

A irmã caçula, Silvinha, ficou à frente da boutique quando ela decidiu abrir o restaurante Mahalos, no CRI, em 1984. Eliete havia se mudado para Iguatu com o marido Walter e os filhos, tornando-se o casal sócios do empreendimento. “Eu trouxe um chef que eu já conhecia do melhor restaurante de São José dos Campos, João, um cearense de Solonópole, excelente cozinheiro. Compramos todo material de restaurante em São Paulo, fogão industrial, forno de pizza, inauguramos com uma festa de casamento, da filha de Hélio Mendonça. Eu era amiga de Rosemary, esposa do doutor Maurício Assunção, ela pediu um prato do cardápio, filé imperial, e aprovou. ‘Pode investir sem medo’, ela disse”.

Política

O Mahalos marcou época na Terra da Telha, apresentando uma cozinha diversificada e de alta gastronomia, ótimo atendimento e uma clientela de muito bom gosto. Fechou as portas em 1989, devido a prejuízos financeiros que se acumularam em decorrência de inúmeros ‘vales’ de clientes, sobretudo quando havia festa no CRI. Foi quando Antonieta adentrou na política, como chefe de gabinete do deputado estadual Roberto Costa, depois de trabalhar na campanha que o elegeu. “Agradeço o que sou e o que tenho a Rossana, por me confiar ao cargo de chefe de gabinete do marido dela. Eu comecei a trabalhar na Assembleia em 1990, fiz boas amizades e aprendi a caminhar com meus próprios passos. Roberto ganhou a eleição para prefeito de Iguatu e eu fui ser chefe de gabinete do deputado Heitor Muniz, do Crato, depois dos deputados Hildernando Bezerra e Agenor Neto. Ainda trabalhei no setor administrativo da Assembleia com Lise Novaes e Sávia Magalhães, diretoras, dois anjos na minha vida, devo muito do que sei a elas, são minhas amigas há 19 anos.”

Nessa época, Antonieta conheceu a futura prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, que estava se licenciando do cargo de deputada para disputar a eleição municipal, alcançando a vitória no primeiro turno. Durante a campanha, ela movimentou o bairro São João do Tauape, onde mora na Capital, com a realização de um comício da “Loura” na sua rua, seguido de jantar para cem convidados na sua casa que contou com as presenças de personalidades políticas e de Luizianne, de quem se tornou amiga.

Antonieta abriu no São João do Tauape o Centro Social Comunidades em Ação, quando teve a chance de exercer a assistência social junto às famílias do bairro. “A gente fazia doação de cestas básicas, de geladeiras, em parceria com a Coelce e de dona Yolanda Queiroz, do Grupo Edson Queiroz; distribuição gratuita de ‘sopões’; casamentos comunitários; ajudamos muitas pessoas que precisavam, mas infelizmente o Centro fechou por falta de aporte financeiro dos governos. Um grande amigo, Bento, esposo de Fátima de seu Aguimar Mendonça, trabalhava no Banco do Nordeste e ajudou muito a Associação. Eu sou muito grata a ele.”

Vale a pena ser feliz!

Hoje Antonieta está aposentada, mas sai pouco de casa e viaja menos do que gostaria a Iguatu. Em tempo de eleição, trabalha com afinco por votos para Luizianne e Lula. “Eu sou muito ligada em política, sou PT e não abro mão, sou Luizianne Lins para senadora e Lula para presidente, se não for ele, votarei no candidato que ele indicar.” Lembra com saudades dos saltos de paraquedas – “foram três saltos, por isso não tirei brevê” – e das inúmeras viagens que fez pelo Brasil e para o exterior – “Minas, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Miami, Orlando, Fort Lauderdale, fiz um cruzeiro nas Bahamas, uma delícia, uma das melhores coisas que fiz na vida”.

Eu lhe pergunto se tudo que viveu valeu a pena, no que ela responde: “Valeu não, vale muito a pena viver, eu sou feliz, tenho uma família maravilhosa, amigos, tenho muita gente que gosta de mim. E eu adoro fazer o bem para as pessoas, e quando eu faço o bem a alguém, eu me sinto mais forte e com mais energia, valeu a pena tudo o que eu fiz, vale a pena ser feliz.”

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