No final da tarde, por volta das 16h, o som da flauta doce e a voz suave da criançada tomam conta de uma das salas da Escola Municipal de Ensino Fundamental Francisca de Jesus Cavalcanti, no centro de Cedro. Os estudantes estão tendo o primeiro contato com o instrumento. Mikaelly de Lima, 11, tem vontade de aprender a tocar flauta e violão, decidiu encarar esse desafio. “É bem difícil, mas eu vou aprender. Até porque sempre gostei de música, minha família gosta de música. Pra mim, o maior desafio é poder vir para as aulas, porque dependo sempre de alguém pra vir me deixar. Mas vou conseguir”, contou a estudante.

Já Samuel Fernandes, 10, que sabe tirar um belo som da flauta, entrou para o projeto para aprender cada vez mais sobre a música. “Eu já tive contato com a flauta, fazia aula bem antes, aprendi a tocar “Asa Branca” e outras músicas, mas aqui participando do projeto é bem melhor. Muito legal. Estou gostando muito e aprendendo cada vez mais”, disse.

O projeto “Cantando com o futuro” é uma novidade na escola, desenvolvido com uma turma de 25 alunos de várias séries e idades. As aulas acontecem duas vezes por semana e são bem frequentadas. “Logo que o Júnior e o Michael procuraram nossa escola apresentando o projeto, nós aceitamos e abraçamos porque a música transforma. Em tão pouco tempo, a gente vem percebendo isso com nossos alunos”, comemora Maria Nogueira, diretora da unidade.

Missão

Os alunos prestam muita atenção nas técnicas repassadas pelo músico e policial penal Michael Prudêncio, idealizador do projeto, que explicou que teve a ideia a partir da necessidade de repassar o que sabe para as crianças. A escola fica vizinho à cadeia pública da cidade. Foi essa aproximação que levou a escolha da unidade para as aulas que acontecem duas vezes por semana. “Eu moro em Iguatu, aproveito dois dias da semana, uma hora do expediente para desenvolver o projeto com eles. Estou admirado com o bom desempenho da turma, são aplicados, afinados. A nossa intenção é apresentar em dezembro aqui na escola um concerto natalino, no encerramento das atividades letivas. Eu, que já fui professor de música, sentia essa vontade de retornar a dar aulas, e assim, através de um projeto social, é gratificante”, contou o policial penal e músico Michael Prudêncio, que é filho do ilustre maestro Francisco Prudêncio – Mano (in memoriam). “A finalidade é induzir mudanças positivas na trajetória social, retirando as crianças da ociosidade e incentivando o interesse pela música. Vejo também como uma missão repassar o que aprendi com meu pai. Um legado cheio de exemplo, de dedicação à música, ao próximo”.

Trabalho social

Para Oliveira Júnior, diretor da Cadeia Pública de Cedro, a ideia do projeto é justamente essa: aproximar o sistema de segurança pública com a sociedade civil, mostrando um trabalho que vai além das atribuições penitenciárias. “Quando Michael falou do projeto, a gente tratou em desenvolver logo, isso porque faz parte do nosso trabalho social. Além desse projeto musical, temos também outras ações que pretendemos dividir com a sociedade, um projeto inédito desenvolvido pelo nosso sistema prisional. É orgulhoso pra gente”, disse.

“Através dessa parceria entre nós da Secretaria da Educação vamos levar esse projeto para outras escolas da rede pública de ensino do município. Uma ação que merece reconhecimento e tem contribuído em tão pouco tempo, pouco mais de um mês para nossas crianças. A música, a arte são fatores essenciais ao desenvolvimento cognitivo, afetivo, motor e o despertar do talento artístico nos estudantes”, complementou José Garibaldi, diretor pedagógico da Secretaria de Educação de Cedro.