‘‘O carnaval é a expressão mais genuína da cultura brasileira. É o tempo em que o povo brasileiro se reúne para celebrar a sua própria ignorância e a sua própria miséria’’. – Olavo de Carvalho
Passado o período carnavalesco, o brasileiro, por fim, volta, ainda que vagarosamente, às suas atividades normais. As ressacas alcoólica e moral, e aquela pequena depressão oriunda dos excessos, se fazem presentes.
Muitos estão, neste exato momento, arrependidos pelas altas somas gastadas nas noites festivas regadas a muitas aventuras e desventuras. Estar no vermelho não parece ter sido um preço (literalmente) satisfatório a se pagar, não é mesmo?
O sujeito reza, agora, para não ter como penalidade a surpresa da paternidade ou alguma enfermidade advinda daqueles dias libertinos. Tais ideias fazem com que qualquer indivíduo festivo sinta um frio gélido percorrer toda a sua coluna.
Tais pensamentos fazem com que o mais convicto ateu profira uma tímida – mas honesta – oração ao Senhor, pedindo para que Ele o salve das possíveis consequências que a boemia brazuca de fevereiro o levou a fazer durante o seu estado deplorável de embriaguez.
Isso tudo sem mencionar os relacionamentos que se desfizeram por conta do desejo, por parte de um, de ‘‘ser livre’’ nesse período. Quem foi deixado, um consolo: se alguém cogitou lhe perder em prol das noites de depravação, não foi uma perca, haja vista que não se perde um amor que não existe, e que talvez nunca tenha existido.
O amigo leitor conhece o significado da expressão pão e circo? Se não, aqui está:
‘‘Em Roma, houve a denominada política do pão e circo, onde migalhas (pão e trigo) eram fornecidas gratuitamente à população e haviam espetáculos públicos em arenas, os gladiadores, para entreter a população, fazendo com que não ficassem revoltados com o seu desemprego e demais problemas sociais.’’
Enquanto o festivo ressacado escova os dentes, incauto, sequer tem noção de que o seu país está em crise. O seu senso político é o mesmo de uma criança. A massa ignóbil da nossa nação é entretida com festividades e assistencialismo minguado, e não se dá conta de sua miséria, sua pequenez.
O homem comum volta ao trabalho, ao martírio de viver sem o básico, mas feliz… estupidamente feliz. O indivíduo que não sabe quais as ações externas que agem sobre a sua vida, quase não tem consciência de que está vivendo. Aliás, não vive, apenas existe e serve de instrumento de manobra e expropriação.
Mas, para ele, pouco importa essas ‘‘bobagens políticas’’. O que importa é que sua escola de samba ganhou! E que bebeu, dançou e namorou! ‘‘Afinal, só se vive uma vez!’’, pensa o ‘‘jênio’’ (sic) de espírito malandro (ao menos é isso o que esse tipo de gente acha de si: o espertão). E as dívidas? Ah, ele dará um ‘‘jeitinho brasileiro’’ – o que significa inadimplência, muito provavelmente.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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