Em Iguatu a consciência ambiental é escassa. Não culpo muito as pessoas.
Pai, eles não sabem o que fazem. Falta identidade das pessoas com a natureza que nos envolve. Não se ama o que não se conhece.
Iguatu traz no nome água, era assim que os nativos falavam daqui porque eles viviam nesse lugar com lagoas, córregos e os rios Trussu e Jaguaribe se encontrando.
Tenho certeza que se os índios daqui, verdadeiros donos dessa terra, estivessem vivos, teriam mais cuidado para esse lugar continuar tendo água boa.
A “civilização” soterrou primeiro os nativos, que se viram entre a cruz e a espada, literalmente.
Depois a civilização foi se impondo na planície fresca entre o Rio Jaguaribe e o Rio Trussu.
Da Lagoa do Barro Alto, passando pela Lagoa do Baú, Lagoa do Julião e Lagoa da Bastiana e outras lagoas se conectavam na época das cheias.
Para os índios era uma beleza e uma riqueza.
Mas a cidade cresceu e perdeu a ligação com a natureza. As lagoas e os córregos e mesmo o rio Jaguaribe “não serviam pra nada” e essa foi a justificativa para irem sendo destruídos e aterrados.
Por onde a “civilização” foi chegando o desrespeito foi o mesmo, chegando ao cúmulo de se construir um aterro sanitário dentro da área da Lagoa do Julião.
A cidade cresceu em cima de crimes ambientais, muitas vezes disfarçados de progresso, muitas vezes justificado pela ignorância.
A Lagoa da Bastiana foi dividida em duas na década de 70 e despejam esgoto lá de todo jeito sabe deus desde quando. A vegetação no entorno já foi destruída e hoje em dia nem as garças usam mais a lagoa como abrigo.
Podemos dizer que a Lagoa da Bastiana está morta.
A lista de crimes contra a nossa natureza e contra nossas lagoas é uma ladainha mais comprida e está todos os dias a olhos vistos.
O que incomoda é ver tão pouco envolvimento das pessoas com a defesa do meio ambiente daqui. A mim, é o sentimento de dar murro em ponta de faca, mas aqui estamos mais uma vez, e esperando outras mãos para somar e falar pela vida da nossa natureza.
Ah, falando nisso, estão drenando um trecho de um córrego do sistema da lagoa do Julião ali na avenida Perimetral.
No meio de tantos problemas expostos todos os dias aos olhos de todos, aquela obra ali é o menor dos nossos problemas, mas não deixa de ser um lembrete sobre o conjunto da obra, que é bem mais dramático.
Jan Messias é radialista, fotógrafo e estudante de direito
0 comentários