Uma celebração à cultura indígena. Foi assim que Iguatu recebeu na Praça da Matriz na manhã do último sábado, 20, o projeto Sonora Brasil do Sesc. Esta edição trouxe a música dos povos originários do Brasil a partir da visita das etnias indígenas Kariri-Xocó, de Alagoas, e Fulni-Ô, de Pernambuco. A música dos povos originários do Brasil foi escolhida como tema da 22ª edição do maior projeto de circulação musical do Brasil e realizado pela instituição há 20 anos.
Os indígenas aproveitaram a presença do padre Carlos Roberto Alencar, pároco de Senhora Santana e de representantes da igreja, para bênção religiosa. Os católicos celebram 300 anos da chegada da imagem da padroeira a Iguatu. “A imagem foi recebida por índios. Isso nos tem uma simbologia incrível”, disse o pároco.
A apresentação ocorreu na Praça da Matriz, local onde ocorreu o primeiro aldeamento do grupo de indígenas na cidade de Iguatu, da tribo Quixelôs. O momento com os índios de outros estados em local símbolo é um marco para o historiador iguatuense Chico de Paula. “Aqui [na praça] houve muitas batalhas entre os índios e povo branco. Diversos índios foram ‘amansados’ em troca de gado. Antes da Igreja Matriz da Padroeira ser erguida, existia uma capela. E ela foi construída com o trabalho dos Quixelôs”, lembrou Chico.
Tradições e costumes
Os torés expressam a espiritualidade de cada tribo com movimentos e música. Os Kariri-Xocó utilizam os buzos (espécie de flauta), maracás de mão e de tornozelos. No repertório estão também os rojões, que já fazem parte da tradição musical deste povo e são um reflexo do trabalho nas fazendas e da dinâmica de trocas culturais ocorridas na região. “Fomos muito bem recebidos pelo povo de Iguatu. Há sempre essa curiosidade de como são os nossos costumes. Nossa ida a cidades do país serve para ressaltar que somos um só povo, e nossa história merece ser preservada e nosso Brasil merece ser cuidado”, disse Hiaconã, líder do grupo indígena Kariri-Xocó.
As letras cantadas em português possibilitam conhecer um pouco da história do povo, falando do cotidiano dos indígenas nas colheitas ou nos dias atuais, ou trazendo sincretismos religiosos e remetendo ao tempo da colonização quando eram obrigados a praticar suas tradições secretamente. A segunda apresentação foi do Grupo Memória Fulni-Ô (PE), que trouxe as músicas tradicionais: toré e a cafurna.
Sonora Brasil Carlos Magno, técnico de cultura do SESC Fortaleza, ressaltou a importância do momento para cidades do interior do estado. “Os concertos do Projeto Sonora Brasil abordam aspectos históricos da música brasileira e, neste circuito, os sons ancestrais, instrumentos ritualísticos, assim como os cantos e danças sagradas para estes grupos indígenas são reconhecidas como elementos fundantes da cultura do País”, disse.
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