Antônio Santana Dias ‘Pretinho’, 69, é uma espécie de artesão na restauração dos utensílios mais cobiçados das donas de casa: as panelas. O atelier-loja só não abre no domingo. De segunda a sábado lá está o dono do empreendimento e seus dois assistentes, Pierry Matias, 61, e Jefferson Gomes, 19. Pierry é o fiel escudeiro do artesão. Está sempre atento aos clientes que chegam, sabe onde tem cada utensílio, atende a um e outro, e tem domínio sobre preços, uso e utilidade dos produtos. Seu jeito prático de lidar com as pessoas, sua comunicação rude, mas essencial, faz lembrar ‘Sancho-Pança’, fiel escudeiro de Dom Quixote, personagem da obra de Miguel de Cervantes.
Quem chega à lojinha, no Centro, vai se deparar com os três: Pretinho, Pierry e Jefferson. Normalmente, Pretinho está sentado em seu banquinho, cercado de panelas para consertar. A mesinha com as ferramentas que ele usa fica de frente.
Há quase três décadas no ramo, Pretinho comanda um pequeno negócio, a loja de produtos mais inusitados, no Centro de Iguatu, na esquina da Agenor Araújo com a Rua Deputado Adail Barreto Cavalcante. Os artigos não muito comuns de encontrar no comércio ele tem por lá, como chocalhos, fogão a carvão, lampião a gás, bainha para facas, sandálias ‘currulepos’ (couro cru), cangaias, cachimbo, pé de potes, panelas de barro, moinho, chapas para fogão a lenha, pilão, além de uma variedade de outros utensílios, ainda hoje usados pelas pessoas em casa. A loja é um labirinto de ‘bugigangas’ de uma ponta a outra, embora seja importante frisar que para cada produto, por mais inusitado que seja, um dia, alguém vai procurar.
Valor sentimental
Mas muitas das pessoas que frequentam o estabelecimento vão em busca dos serviços do artesão. É comum se deparar com senhoras levando suas relíquias da cozinha para conserto. A loja atende, para venda de produtos e conserto, clientes não só de Iguatu mas da região também, de vários municípios do Centro-Sul.
Usando suas inseparáveis ferramentas: alicate, chaves de fenda, serra, furadeira, martelo e os cravos de alumínio e arrebite, para o restaurador Pretinho não tem viagem perdida. A panela, caneca, caçarola chegam lá com defeito e ele devolve recuperadas. “Para muitas das pessoas que vêm aqui, trazendo qualquer peça para consertar, às vezes o valor do conserto se aproxima do preço de uma nova, mas para essas elas o utensílio tem um valor sentimental muito grande, por isso preferem consertar”, lembrou.
Ao longo de trinta anos, ele se especializou em consertar panelas de pressão. As técnicas usadas são modernas. Após restaurar a panela, Pretinho usa um compressor a ar para enchê-la, já com a tampa colocada. “Se não tiver vazamento de ar, significa dizer que está boa para usar novamente, caso contrário, não presta mais, quando usá-la não vai mais pegar pressão”, afirmou.
Terapia
Antônio Santana Dias começou com uma loja menor do que a atual há quase três décadas. Depois incorporou os serviços de recuperação de panelas. Nunca fez curso, mas descobriu suas habilidades em recuperar os utensílios domésticos que não podem faltar em casa.
Vender seus artigos inusitados e consertar panelas, caçarolas, canecas de alumínio se tornou o ofício deste iguatuense, quase setentão que se orgulha em poder servir a clientela com sua loja de produtos que não se acha em outros lugares, e recuperar aquelas peças, que às vezes nem mesmo quem as leva até ele, acredita que possa voltar para casa com elas recuperadas. Para o artesão Pretinho, o conserto das panelas e a loja de ‘quinquilharias’ funcionam para como uma terapia. São jornadas que começam cedo e só acabam no fim do dia quando o último cliente é atendido. Ele revelou que é prazeroso poder devolver às pessoas, plenamente consertados, seus utensílios domésticos e objetos pessoais que em muitas situações têm valor sentimental incalculável. “Não me vejo fazendo outra coisa”, finalizou.
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