A banquinha está montada estrategicamente na Avenida Dário Rabelo, próximo ao campus Humberto Teixeira, no bairro Santo Antônio. A escolha do local foi para atingir também uma grande camada de pessoas de menor poder aquisitivo que moram e circulam naquela região, além de ser um corredor de acesso ao centro comercial de Iguatu. Há três anos, quando não se falava massivamente em ‘delivery’, o pessoal do Balaio Agroecológico já fazia a entrega dos produtos direto ao consumidor. Com o avanço da vacinação, a diminuição de casos e mortes na cidade em decorrência da Covid-19 e a abertura do comércio de rua, o Balaio veio à rua.
O Balaio Agroecológico, nome dado ao sistema agroflorestal implantado no Sítio Juazeirinho, zona rural do município, foi uma iniciativa do acadêmico de biologia e agricultor agroecológico Dauyzio Alves e do também agricultor agroecológico Júnior César. Para eles além das comercialização e contato virtual com os consumidores, no momento foi sentido uma necessidade chegar mais perto das pessoas. “Tá sendo uma experiência muito legal porque a gente pode tá tendo um contato com o pessoal, conversar, falar sobre como é a produção e também temos acesso a um público que não tá nas redes sociais. Um público do dia a dia que vem fazer a caminhada, moradores do bairro, muitos não estão nas redes sociais mas podem ter acesso aos nossos produtos”, conta Dauyzio Silva, afirmando que a ideia sempre foi que o projeto servisse de estímulo para que outros produtores também se interessem pelo sistema de plantio agroecológico para que essa cadeia de produção natural longe de agrotóxico seja ampliada para uma maior comercialização desses produtos, atingindo mais pessoas. “Quem comprar aqui ajuda a fomentar uma agricultura que preserva solo, que regenera a natureza e recupera áreas degradadas de caatinga. A gente planta árvores, e a gente quer que amplie isso. Estamos conseguindo produzir nesse um ano e meio a uma diversidade de mais de 150 espécies de plantas, sendo que 25 delas são para comercialização, as outras são para produção de biomassa, recuperação de área e frutíferas. Então essas árvores constituem um verdadeiro ambiente diversos com a presença de insetos que não chega a ser praga. Tem todo um ecossistema funcionando para que seja adequado para todas as plantas que estão lá para uma produção natural”.
Cadeia produtiva natural
Dauyzio pondera que dentro do projeto estão também outros agricultores familiares, fortalecendo essa cadeia produtiva natural em Iguatu. Fábio Alexandre, que trabalha com produtos desidratados, passou a comprar pelo Balaio. “Agrega mais valor ao que faço. Porque sei da procedência dos alimentos que estou fazendo nesse processo de desidratação. Essa iniciativa dos meninos tem feito a gente pensar e rever o hábito alimentar para ter melhor qualidade de vida”, disse.
“A gente tem hoje 80% da dieta da humanidade baseada em 12 plantas. O que a gente tenta trazer plantas que eram cultivadas antes, nossa comunidade tinha o hábito cultural de se alimentar bem e perdeu. E plantas que são muito importantes para dieta que são de outras regiões que a gente passou a introduzir aqui. A moringa, a taioba, o açafrão, gengibre, a bertalha e outras hortaliças que não são comuns aqui, entre elas o ora-pro-nóbis, chicória, almeirão e rúcula, as quais a gente não tem tanto costume de comer. A biodiversidade do campo, a gente tá trazendo para nossa comunidade”, aponta Silva.
“Já costumo adquirir esses produtos do Balaio pela internet. Como montaram a banquinha, vim conhecer. É importante que a gente pense mais em nossa alimentação, conhecer essas outras variedades de hortaliças por exemplo está sendo uma construção diária para mim e minha família. E o legal que a gente passa a procurar saber a origem dos produtos daquilo que a gente consome e esses que estão sendo introduzido na nossa dieta alimentar. O importante é que são produtos locais, sem agrotóxicos. São iniciativas assim que devemos apoiar, ainda mais sabendo que o benefício é para nossa saúde”, destaca a advogada Patrícia Santiago.
Preço acessível
Em relação ao preço, segundo o Balaio, a variação chega a ser pouca quando comparada com produtos da agricultura convencional. “A gente define o preço baseado no custo. Nossas hortaliças têm preços variados, umas com preços de mercado e outras abaixo. A gente tenta fazer o máximo possível para que nossas hortaliças, por exemplo, cheguem ao máximo a R$ 2,00. A gente consegue fazer isso o ano inteiro. Ao invés de seguir de acordo com a demanda, como é que o mercado faz, quando tem muito cheiro-verde, o preço cai. Quando tem pouco cheiro-verde, o preço sobe. Desse jeito a agricultura convencional ganha dinheiro, quando tem gente passando fome. Quando tem pouca produção o preço sobe. Mas, quando o preço sobe, o povo não pode comprar. Então o agricultor convencional ganha dinheiro quando tem gente passando fome. Isso é muito triste pra gente. Essa não é agricultura que a gente quer”, exemplifica Dauyzio Silva, afirmando que os o sistema deles dessa forma dar para manter os preços durante o ano inteiro.
“O consumidor tem a garantia que o preço não vai aumentar. Isso é bom para o agricultor que tem uma garantia durante o ano todo e bom para o consumidor que não tem essa diferença sazonal de preço. Por isso a gente tenta fazer o mais acessível para as pessoas, para a comunidade”, complementa Júnior César. “A gente tenta atender as pessoas da melhor maneira possível. Estávamos atendendo só pelo WhatsApp, mas estamos aqui e também pelo aplicativo as pessoas podem continuar fazendo os pedidos pela internet que continuamos também. “O capitalismo implantou nas pessoas que o produto orgânico é caro, que produto agroflorestal é caro. Mas na verdade, tem ainda essa rejeição que foi implantado isso, que é caro. Nós temos um produto que não tem preço, tem valor. Porque ali está a família trabalhando. O sistema agroflorestal a gente planta árvores, restaura aquele espaço, diferente de outros sistemas que tem que desmatar para produzir. Nesse período em que as árvores vão se estabelecendo a gente vai aproveitando com hortaliças e depois fica sendo substituídos pelas árvores” acrescenta Júnior.
Apoio
A iniciativa passou a contar com o apoio e parceria da Secretaria do Meio Ambiente de Iguatu. “A gente está vendo a importância do trabalho dos meninos, cedendo uma estrutura de apoio com a barraca. Fizemos um treinamento com Alexandre Caíque, Fundador da Ecoar Sintropia, startup de consultoria em sistemas agroflorestais biodiversos. Vamos trazer ele novamente aqui em janeiro para implementação de algumas áreas de sequeiro, vamos trazer alguns cursos para organizar e fortalecer o sistema agroflorestal em nosso município. Porque realmente é uma ação que faz a recuperação de solo, pratica o bem ao meio ambiente”, ressaltou Mário Rodrigues, gestor da pasta.
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