Nossa pesquisa sobre o esfíngico bardo árcade Quérulo Umbrano nos levou aos antigos alfarrábios críticos dos séculos XVIII e XIX. Mendes dos Remédios, Alexandre Herculano, Fidelino de Figueiredo et ali. Poucos dados biográficos, como já escrevemos, há sobre o poeta. Inclusive não sabemos o seu nome real. Sua poesia encontra-se espalhada em jornais da época e os aspectos referentes à sua existência colhemos em depoimentos de outros vates do período neoclássico da literatura portuguesa.
Os versos do neoclássico Quérulo Umbrano têm acentuado teor platônico, bem como elementos do Estoicismo e do Epicurismo. Uma mescla típica dos bardos herdeiros do Helenismo tão fecundo nas letras romanas. Eis uma de suas odes:
ODE XIII
Mais oculta o Oráculo ao falar;
Segredos são mentiras;
Falsas vozes ao som de falsas liras,
Sortilégio no ar…
Ah, Lívia, olhemo-nos tão somente,
Que a alma anseia estar do corpo ausente.
E o Exílio deixar
E não mais caminhar…
Miragem é a sede e o beijo nos trai.
No Cárcere não cai
A alma que a Plenitude só adora.
Os Anjos nunca sonham com o Outrora!
Calmos vaguemos quais amenos ventos
Nas relvas e nas flores…
Nem prazeres nem dores,
Tão somente a paz dos pensamentos…
Saciados, quais deuses, sem desejos;
Da chama só lampejos.
Qual um barco sem porto,
Sejamos Alma. Tudo o mais é morto!
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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