(Virgilius)
Lux! E jamais voltar ao sono escuro
À sede da matéria…
Ser uma sombra etérea,
Ser o infinito o único futuro!
Não lembrar! Ter a inocência da água;
Ser pedra eternamente!
Tal qual o mar onde o rio deságua
Em música silente…
……………………………………………………………………………………….
O título desta nossa pequena ode é uma citação de Virgílio, Eneida, retirada do Canto VI. Como sabeis, Eneas desce ao Hades acompanhado pela Sibila à procura de iluminação para seguir a sua Missio. Os primeiros momentos da Catábasis são críticos, dolorosos, pois o herói se depara com os suplícios daquele horrendus locus. A certa altura, profundamente compungido, ele vê um grupo choroso de almas a vagar. Então indaga à sacerdotisa: Quidve petunt animae? (o que pedem as almas?).
Tentamos, à luz da poesia, responder a esta pergunta sub specie aeternitatis. Talvez as almas não queiram mais mergulhar no Letes; talvez estejam extremamente cansadas… Pesa-nos sobremaneira o Fado. A própria ideia de cumprir a missio é sofrivelmente concebida. Então sonhamos apenas com a inocência, com a calma absoluta da pedra, com o rio que flui como música….
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
0 comentários