O voluntariado ainda é um gesto forte no meio da sociedade. Ele se dá por meio de pessoas que enxergam a necessidade de outras tomam a iniciativa de ajudar, seja individualmente ou através de instituições ou entidades. As classes sociais que recebem a atenção dos voluntários e as instituições criadas por eles, geralmente, são moradores de rua, usuários de drogas e outros dependentes químicos, catadores de lixo e carentes à margem da sociedade, vivendo no limite da linha da vulnerabilidade, ou seja, tendo o mínimo ou quase nada.
Em Iguatu, há 11 anos está em funcionamento a instituição Rainha dos Anjos, fundada pelo voluntário Ricardo Monte, que assiste usuários de drogas, álcool e moradores de rua. A instituição que mantém três unidades, em Iguatu, Milhã e Fortaleza, é ligada à Igreja Católica e vive de doações. Ricardo Monte é um ex-usuário de drogas, por 17 anos, que ao se deparar na rua com pessoas vivendo em situação de total abandono e entregues ao vício, sentiu-se vocacionado a tentar reverter a situação. Foi quando surgiu a ideia de criar as casas de acolhimento.
As mulheres usuárias de drogas são atendidas ficam num imóvel na Rua Cel. José Mendonça, no centro de Iguatu. Já virou rotina encontrar os jovens que foram recrutados também como voluntários fazendo trabalho com moradores de rua. Em geral, eles usam música, orações e palavras de conforto. Como se fossem penitentes, os jovens percorrem os locais onde as pessoas estão dormindo e oferecem caldo, água, café e até um abraço. As visitas têm uma carga emocional, porque em geral são os momentos em que essas pessoas fazem seus relatos, desabafos, choram e revelam porque estão ali.
Os casos são os mais diversos, mas em comum situações que envolvem desavenças familiares, problemas com o uso de álcool e outras drogas, abandono.
Ana Natália Rodrigues de Freitas, 33, que é consagrada da irmandade, responsável pela Casa Feminina de Acolhimento que funciona em Iguatu, disse que conheceu o trabalho voluntariado em Fortaleza, onde fica a sede, e começou a participar dos grupos de oração, envolveu-se com o trabalho e hoje está totalmente entregue ao ato de se doar em razão dos menos assistidos. Ela se identificou como co-dependente química, por causa de dois casos de alcoolismo em sua família, com o pai e uma irmã. A casa de Iguatu tem capacidade para acolher até 10 mulheres. A Casa de Acolhimento de Milhã tem capacidade para receber até 24 acolhidos.
Realidade das ruas
Nossa reportagem acompanhou por mais de uma ocasião os jovens voluntários nas ruas de Iguatu, nos locais onde os assistidos estavam dormindo. Os principais pontos são mercado público, abrigo metálico, terminal rodoviário e postos de combustível. Nesses locais, constatou-se uma suspeita de que aumentou significativamente nos últimos meses o número de pessoas vivendo em situação de abandono perambulando pelas ruas. A maioria usuários de álcool e outras drogas.
Francisco Calixto Pereira, 50, natural de Acopiara, e José Artur, 57, natural de Iguatu, foram abordados na Av. Agenor Araújo, numa noite de visita dos voluntários. Francisco Calixto disse que está morando na rua porque não é aceito pela família, principalmente os filhos. José Artur alegou que não tem familiares e sequer conhece alguém que seja seu familiar. “Hoje me sinto desprezado pela família, meus próprios filhos me viraram as costas”, afirmou Calixto. Ambos disseram que dormem nas calçadas, e as maiores dificuldades é na hora de tomar banho, trocar de roupa e comer.
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