Nesta edição do A Praça, o prezado leitor está recebendo mais um caderno da série ‘Pequenos negócios e os impactos da pandemia’, que conta histórias de pequenos negócios que surgiram durante a crise da Covid-19 e estão auxiliando no complemento da renda das famílias.
Os personagens são homens e mulheres que enxergaram a oportunidade de montar seu próprio negócio e estão trabalhando em casa, fazendo seus produtos e serviços chegarem até os consumidores. Entre eles, Eudimar, gerente de manutenção de uma indústria local, que ao perder parte de sua renda financeira, foi buscar nos pequenos negócios a prática da confecção de pratos prontos com camarão ajudando no complemento do orçamento de casa; a servidora pública Cristiana Carvalho, que ao ficar em casa de quarentena pensou em aproveitar melhor o tempo fazendo vatapá, panquecas e caldo de mocotó, começou a mudar a rotina, quando as amigas a incentivaram fazer os pratos para vender; e Soraia Magalhães criou o empreendimento ‘Doce Sabor’. Servidora pública concursada, ela se descobriu confeiteira, a partir de um curso de qualificação na área.
Eles usam duas ferramentas fundamentais neste tipo de negócio: as redes sociais para divulgação e o delivery, nova modalidade na oferta dos serviços de entrega, oferecendo aos consumidores a opção de receber o produto desejado, no conforto de casa, com segurança e qualidade. O delivery está ajudando a fazer o caminho inverso entre o consumidor e seus desejos de consumo, seja na área de alimentos prontos ou de outros produtos. Aumentou de forma vertiginosa o número de trabalhadores aderindo ao serviço de entregas, em toda cidade.
Esses pequenos negócios surgiram por acaso, através da sugestão de um amigo, ou por uma ideia que estava guardada na gaveta. Todos os empreendimentos são do segmento de alimentos prontos e estão localizados na cozinha de casa. É a receita de casa que está indo à praça e ajudando a mudar conceitos, nos serviços de preparação, execução e entrega de pratos prontos, abrindo um leque de oportunidades para quem serve e quem consome. Ir à lanchonete, ao restaurante, à churrascaria, sorveteria, pastelaria, pizzaria e ter que esperar durante horas por um prato, muitas vezes correndo o risco de não receber o pedido desejado, é um hábito que pode estar com os dias contados. Do contrário, os estabelecimentos desses segmentos precisarão melhorar o atendimento ao cliente ou terão que se reinventar também para continuarem funcionando.
Delícias da Cris
O empreendimento ‘Delícias da Cris’ também surgiu por acaso. Cristiana Carvalho, 39, servidora pública municipal, é a dona da ideia. Ela disse que, apesar de gostar muito da cozinha e das habilidades com a culinária, nunca havia pensado na possibilidade de fazer seus pratos para venda, só que mudou de ideia quando a pandemia a colocou de quarentena em casa. “Fiz um vatapá e distribuí com as amigas e elas me incentivaram a fazer para vender, postei fotos nas redes sociais e começaram a procurar”. E foi através do vatapá que Cristiana também apresentou à clientela o salpicão de frango com batata doce, as panquecas ao molho (prato preparado especialmente para o domingo) e o caldo de mocotó engrossado com macaxeira, este servido somente na sexta-feira. “Foi de uma brincadeira entre amigas que Deus abriu uma porta na minha vida e da minha família”, frisou.
Todos os pratos que Cris consegue preparar e o sucesso que as receitas fazem entre os consumidores não teriam tanta notoriedade se não fosse outra paixão da vida profissional dela: o amor pelas vendas. “A gente tem que fazer o que gosta. Meu negócio é vendas, amo vender”. Ela revelou que antes de fazer os pratos prontos já vinha trabalhando com a venda de ‘chás naturais’.
Mas a ideia de preparar os pratos com massas, carnes, molhos, temperos está mexendo com sua rotina e ocupando o tempo livre que a ‘quarentena’ deu para ela. É da cozinha de sua casa, no bairro Cajueiro, de onde saem as receitas prontas que conquistam o paladar da clientela.
Em família
Mas ela não está sozinha no negócio. Cristiana toma de conta da preparação das cobiçadas panquecas ao molho branco cremoso e com milho verde e de carne bovina ao molho bolonhesa, o caldo de mocotó engrossado com macaxeira, preparado em fogão à lenha, o salpicão de frango com batata doce e o vatapá. A filha dela, Raíssa Carvalho, 20, é a relações públicas do empreendimento; faz as imagens e ajuda na divulgação nas redes sociais. O esposo Edson Xavier exerce também função muito importante: transportar os alimentos prontos até os pontos de entrega. Considere que não deve ser tarefa fácil transportar o caldo de mocotó. Cristiana lembrou que tem outras duas importantes auxiliares nas tarefas do negócio: sua mãe, dona Maria Vicente, e sua tia, Margarida.
Com tudo isso a família ainda barateia e facilita a vida do consumidor que recebe os pratos ainda quentinhos no conforto de casa. Os pedidos a partir de 30,00 não há cobrança de taxa de entrega ficando a critério do cliente retirar os produtos no endereço do ‘Delícias da Cris’, na Rua Francisco Bartolomeu Alves de Carvalho, 160, bairro Cajueiro, seguindo pela avenida Alberico Mendonça, onde está sendo construído o Assaí.
Rei do Camarão
Iguatu já dispõe de pelo menos dez unidades de produção de camarão em cativeiro. Isso está estimulando o mercado consumidor local e foi um dos fatores que ajudou a aquecer o empreendimento de Eudimar Freitas Barbosa, 39, criador do ‘Rei do Camarão’. O negócio permite ao empreendedor de um pequeno negócio, que funciona na cozinha de casa, adquirir o camarão selecionado no tamanho padrão, para preparar os pratos e servir à clientela. Eudimar e a esposa Antônia, que tocam o negócio, são criteriosos com a qualidade dos pratos que vão chegar até o consumidor final. Isso exigiu adaptação da cozinha atendendo a todas as normas sanitárias e de saúde, higienização e esterilização dos equipamentos usados na confecção dos pratos. É a própria cozinha de casa, embora adaptada, na Rua 01, nº 1.020 loteamento Terra Bela, perto do antigo abatedouro.
Os cuidados com a finalização do produto estão também na embalagem descartável e até na caixa térmica que faz o transporte dos pratos até o endereço do pedido. A ideia é que o produto esteja sempre bem apresentável para o consumidor final.
Eudimar não perdeu o emprego, continua trabalhando como gerente de manutenção numa indústria local, mas foi a redução de 40% de seu salário, a partir da crise pandêmica, que lhe deu o norte de buscar outra fonte de renda. Uma prova concreta de visão empreendedora, e vontade de vencer, pelos próprios méritos.
Com o Rei do Camarão, ele está conseguindo suprir uma carência local da oferta de pratos prontos de camarão e compensar, pelo menos em parte o que perdeu de salário formal.
O empreendedor afirma que a paixão pela culinária é herança genética de sua mãe, Maria Lismar Barbosa. “Sempre foi uma cultura da nossa família, a gente estar cozinhando em casa, um almoço em família, um jantar, e sempre a gente desenvolveu um prato diferente, assim a gente vai descobrindo as habilidades, porque o básico a gente aprendeu com nossa mãe, ainda na adolescência”, afirmou.
O trabalho com camarão, Eudimar já vinha fazendo comercializando o produto ‘in natura’ na empresa onde trabalha e com os amigos mais próximos. Ele relatou que recebia as encomendas durante a semana e entregava no sábado, seu dia de folga. Para avançar à fase de trabalhar com o crustáceo pronto, foi a partir de uma conversa com um amigo que lhe teria dito: “por que você não faz esse camarão já pronto?”. Eudimar fez os primeiros pratos, ofereceu aos amigos mais próximos e foi um sucesso. Ele disse que passou a comercializar os pratos prontos, com os clientes que compravam o camarão fresco. Mas o negócio decolou para valer, a partir do instante que chegou às redes sociais. “Hoje as redes sociais são uma ferramenta muito importante e nos auxiliam muito”.
Cardápio
Eudimar criou seu próprio canal no Instagram, onde os clientes curtem, compartilham e comentam sobre os pratos. Ao ingressar com os pratos prontos, o empreendedor percebeu uma considerável lacuna do mercado gastronômico da região, nunca preenchida antes e de lá para cá vem introduzindo com alguns pratos tradicionais do cardápio; o ‘Filé de camarão ao alho e óleo’, ‘Camarão no bafo da praia’ e inovando com outras sugestões: ‘Caldo cremoso de camarão’, ‘Camarão na tilápia’, ‘Camarão internacional do Coco Bambu’, ‘Camarão cremoso’ (risoto de camarão). Para a clientela que gosta de pedir o camarão para petisco, o ‘Rei do Camarão’ já serve o prato acompanhado da cerveja gelada. “A gente não ficou limitado a apenas alguns pratos tradicionais, nós aperfeiçoamos o cardápio e estamos a cada dia inovando para oferecer à nossa clientela, o tradicional, o fino, mas também nos adaptando a técnicas novas, procurando sempre melhorar e variar nosso cardápio, para que o cliente tenha mais opções”.
Ao lançar o cardápio com os pratos, Eudimar viu sua rotina e da família mudar. Em muitas situações ele se vê ajudando a preparar os pratos, ao mesmo tempo saindo para fazer as entregas. Mas para ele, enquanto empreendedor, o contato com a clientela, interagindo e principalmente ouvindo sobre “como o cliente quer ser atendido’ é algo que faz a diferença, num universo em que negócios vão mal, principalmente porque o cliente foi embora, por não ter sido ouvido.
Doce Sabor
A servidora pública Soraia Magalhães, 40, descobriu-se uma talentosa confeiteira. Atualmente, ela usa o tempo livre para confeccionar bolos temáticos confeitados atendendo considerável clientela, que chega até ela, também pelas redes sociais. Começou vendendo só para os amigos mais próximos, mas a clientela começou a crescer, à medida que o negócio começou a ganhar espaço nas redes sociais. Para divulgar os produtos e atrair a clientela, a empreendedora usa as redes sociais; Instagram, Facebook e WhatsApp, embora ela também acredita e aposta na velha propaganda feita ‘boca a boca’. “O cliente come do seu bolo e fala para outras pessoas e essas já vêm também para serem novos clientes”, afirmou.
Soraia revelou que já tinha as habilidades na área de confeitaria para produzir bolos, doces, confeitos, mas ainda não tinha se encontrado. Foi a partir de um curso profissionalizante, no Sindilojas, que ela participou a convite de sua cunhada Sônia, que tudo começou. Sônia, que é confeiteira profissional, já enxergava em Soraia a aptidão para a arte de lidar com as massas e confeitos transformando as receitas em deliciosos bolos, doces e salgados. Depois ela fez mais dois cursos na mesma área, pelo Senac, e mais um curso, desta vez, on-line, sobre confeitaria.
A partir daí a própria Soraia descobriu não só o talento de confeiteira, mas também sua visão empreendedora para os negócios. “Eu nunca pensei em me apaixonar tanto, porque fazer bolos, não é só fazer, é uma arte”, frisou. Soraia é daquelas mulheres que faz tudo com amor. Ela contou que quando está preparando os bolos, com suas receitas e confeitos, “é como se eu tivesse fazendo para mim”.
Apoio
Em casa, afastada do trabalho formal, ela passou a dedicar mais tempo às receitas e começou também a atender os pedidos dos clientes. E a nova profissão que começou como uma brincadeira virou de verdade e passou a ser encarada ainda mais de perto, com o apoio que veio da família, inclusive do esposo Wellingtom Oliveira, 47. Meu esposo é meu maior incentivador e meu filho João Wellysson, 16, também é quem faz as artes dos topos dos bolos”, lembrou.
Além dos bolos temáticos e os bolos caseiros, ela também passou a produzir pudins para sobremesa e pães caseiros, usando soro natural (um tipo de fermento caseiro preparado à base de água, sal e açúcar), receita complexa, segundo a confeiteira, mas que dá um sabor inigualável. Soraia Magalhães frisou que ainda não está realizando entregas. Os clientes fazem os pedidos e retiram no endereço dela, na Rua Juvenal Barreto, 514, bairro Taboleiro.
Serviço
Delícias da Cris
WhatsApp e ligações (88) 9.9639-8986
Instagram: @cristianacarvalho__
Doce Sabor – Soraia Magalhães
WhatsApp: (88) 9.9986-2347
Instagram: @soraya.magalhaes.35
@sorayamagalhaesdocesabor
Rei do Camarão
WhastsApp: (88) 9.9616-8826
Instagram: @rei_do_camarao_eudimar
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