Repentistas usam Internet para trabalhar e ganhar dinheiro

07/11/2020

As cantorias do modo tradicional são realizadas em calçadas, no alpendre da casa, às vezes no terreiro. Com o passar do tempo as disputas entre os violeiros ganharam festivais com palcos, som e iluminação moderna, mas mantendo a mesma essência, as rimas e versos de improviso que a cada tocada arrancam facilmente sorrisos e aplausos do público presente. 

Outra tradição também é a presença da bandeja, que fica normalmente à frente dos cantadores, local estratégico para que as pessoas depositem dinheiro. Pelo menos até início deste ano poderiam ser vistos cenários assim, mas por conta da pandemia do novo coronavírus, os hábitos mudaram, eventos com presença de público ainda estão proibidos. Diante desse momento, os artistas ficaram sem palco, sem o ‘ganha-pão”. “Nós artistas fomos a primeira atividade a parar e ainda continuamos. Isso afetou principalmente nossa renda. Com o surgimento das lives, ajudou muito na divulgação, no entretenimento de quem teve que ficar em casa, mas por outro lado ficamos sem renda. Já estamos voltando de forma gradual, mas seremos um dos últimos a voltar 100%”, comentou o poeta e repentista Cícero Cosme, que teve que se adaptar a essa nova realidade.

Lives

Desde quando teve início a pandemia, pelo menos cinco lives já foram realizadas e Cícero está se preparando para a próxima, que acontece, amanhã, domingo, 08, através de suas redes sociais. “O projeto de lives surgiu no intuito não só de divulgar a cultura nordestina, mas também uma forma de angariar recursos para que a arte venha ser mantida. Nós cantadores passamos por dificuldades financeiras e para muitos por questão mesmo de sobrevivência”, complementou Cícero Cosme.

E como maneira de ganhar algum valor durante a apresentação virtual, como implemento eles criaram o termo da “bandeja virtual”, assim as pessoas podem contribuir financeiramente depositando algum valor nas contas dos artistas. “A gente divulga entre os amigos e as redes sociais contribuem para essa divulgação e as pessoas ajudam. É uma espécie de cachê”. Segundo o poeta, as doações acontecem, mas é bem diferente de uma apresentação normal.

Interação

A interação também com as pessoas anima os cantadores. As disputas, as declamações e também a descontração atraem o público, alcançando uma boa dimensão nessas cantorias virtuais. “A gente recebe participação de pessoas não só da região Nordeste, mas do Sudeste, Sul. Várias cidades fazem contato. Isso trouxe uma dimensão muito grande”, complementou, ressaltando que em média as lives alcançam cerca de 5 mil visualizações. “Não nos propomos a fazer muitas lives porque na verdade se torna cansativa para o público. Mas apesar de tudo o povo é que quer, que pede, teve uma que passou das 10 mil visualizações que eu fiz com poeta Paulo Nascimento. Esperamos mais uma vez o público para essa live de amanhã que vou fazer com o poeta Israel Custódio, a partir das 15h no meu Facebook”, concluiu o poeta convidando pessoas a acompanhar mais esse momento de resistência da cultura nordestina.

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