Luís Sucupira é repórter fotográfico, jornalista (MTE3951/CE) e escritor
A história dessa foto começa triste, mas termina com um final feliz.
Ela é um registro retirado de um vídeo, há 30 dias, do Instagram de uma família quixeloense que possui pessoa com necessidades especiais. Foram feitas solicitações apelando ao bom senso para que fossem respeitadas as minorias com necessidades especiais, idosos, crianças e pessoas com problemas de nervos, como chamamos no interior. Mas não avançou.
Uma denúncia foi feita ao Ministério Público e o vídeo era a principal prova da gravidade do problema. O Dr. Leydomar Nunes Pereira, sensibilizado, de pronto expediu uma recomendação para que não fossem utilizados fogos de artifício durante o Campeonato de Futebol de Quixelô. A recomendação foi atendida, mas não precisava disso. Bastava bom senso e empatia.
Eu tenho uma irmã com 58 anos de idade e que tem paralisia cerebral e que sofria muito com isso quando soltar fogos e Fortaleza era algo normal, até que foi regulamentado. Não é fácil controlar as crises e nada que se faça na hora dos fogos atenua, ainda dura um tempo, pois ficam às vezes por horas assustados.
Quando recebi esse vídeo meu coração doeu e me lembrei imediatamente dela e sofri com as famílias que têm pessoas em casa com sensibilidade a fogos. Mas não são apenas pessoas. Animais também sofrem. Entram em pânico, se mordem, fogem e acabam se machucando seriamente ou morrendo atropelados. Alguns ficam tão desnorteados que perdem o rumo de casa e ficam perambulando pelas ruas.
Um sentimento que vem nessa imagem é sobre como ainda existem pessoas que não se importam com as minorias. Todos nós precisamos pensar que somos minoria em alguma coisa, basta olhar a sua volta. A vontade da maioria vale numa democracia para eleger um representante, mas a sua gestão tem que ser voltada também e, principalmente, para aqueles que são minorias, que sofrem preconceitos ou perseguições. Jornalistas têm alguma força, mas são minorias também e são perseguidos e mortos por levarem a mensagem, ou seja, em vez de responder a mensagem ou simplesmente ignorá-la culpam também o mensageiro e assim as perseguições e intimidações começam. A propósito, devo enfatizar que não se deve confundir liberdade de expressão com ‘libertinagem de expressão’. Para a segunda existe a lei e não a chibata.
Não observar esse cuidado com as minorias me arremete ao texto de Eugen Bertholt Friedrich Brecht um destacado dramaturgo, poeta e encenador alemão do século XX:
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
O final dessa história é feliz. Desde sábado, 21 de maio, os fogos silenciaram e a paz retornou à vida daquela e de muitas outras famílias. Mas ainda falta virar lei. Eu acredito no bom senso e na esperança, por que ambos são parte de um estado de espírito. O campeonato perdeu o brilho? De forma nenhuma. Ganhou ainda mais com dois reforços de peso para deixar a festa ainda mais bonita: a sensibilidade na defesa e a empatia no ataque.
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