Patrícia Vênus (Servidora pública e doutoranda em Letras pela UFPR)
Este é o título de uma pesquisa realizada pela Gênero e Número e pela SOF – Sempreviva Organização Feminista. Responderam ao questionário 2.676 mulheres, sendo 85% delas residentes em áreas urbanas e 15% em áreas rurais. Os números da pesquisa nos revelam mais uma das desigualdades que essa pandemia escancara: 72% das mulheres entrevistadas afirmaram que a necessidade de monitoramento aumentou, isso significa que o trabalho doméstico cotidiano e a necessidade de monitorar alguém, crianças ou idosos, não apenas aumentou, como se sobrepõem e se fundem ao trabalho remunerado dessas mulheres, que como anuncia o título da pesquisa: não param.
Um outro dado da pesquisa aponta que 41% dessas mulheres que conseguiram manter os seus trabalhos remunerados, de forma remota, afirmam trabalhar mais na quarentena, a maior parte delas é branca, reside em perímetro urbano e concluiu o nível superior, sem dúvidas, uma parcela privilegiada de nossa população. Este grupo de mulheres está, talvez, experimentando pela primeira vez a desigualdade no tocante à distribuição de trabalho doméstico, pois, se antes, essa mulher terceirizava e delegava as tarefas que lhe são socialmente atribuídas, hoje ela acumula em jornada tripla o seu trabalho remunerado e o tão pouco criativo, porém necessário, trabalho doméstico, do qual os demais membros da família dependem.
A voz dessas mulheres ecoa a partir de um lugar de classe, pois a sua posição e as suas conquistas são impulsionados na contramão pelo trabalho, este historicamente invisível, de mulheres que nessa mesma pesquisa afirmam que a pandemia e o isolamento colocaram a sustentação de suas casas em risco, este dado corresponde a 40% das entrevistadas, sendo que 55% deste percentual é de mulheres negras. Mulheres que certamente não tiveram a oportunidade de chegar às universidades e cujo trabalho é essencialmente presencial, refiro-me às empregadas domésticas e diaristas, que nesse cenário de pandemia não encontram proteção social em seus trabalhos, ondem sempre executaram as funções que permitem aos seus empregadores exercer suas funções intelectuais.
O fato é que por quaisquer dos ângulos que apontamos, o trabalho das mulheres ocupa um papel central no processo de acumulação capitalista, e o pensamento feminista hoje se articula de forma mais equiparada, em que nenhuma mulher seja deixada para trás, mas que todas tenhamos as mesmas oportunidades entre si e as mesmas oportunidades que são socialmente ofertadas aos homens.
Para romper com esses padrões impostos há séculos pela estrutura do patriarcado que nos rege, precisamos de um esforço social coletivo, neste momento em que as pautas levantadas pelas mulheres são cada vez mais ouvidas, as nossas crianças devem ser educadas de forma a cessar a generificação do trabalho doméstico, socialmente atribuído às mulheres, e que hoje é a principal causa da acumulação desigual de funções nos lares dessas mulheres que não param!
O relatório da pesquisa ao qual nos referimos pode ser acessado no site: mulheresnapandemia.sof.org.br.
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