Seu Zai e o gosto pela arte do mamulengo

27/08/2022

Mesmo sem ‘botar boneco’, José Izaquiel Rodrigues, conhecido por “seu Zai”, ainda mantém guardado em uma mala seus bonecos de mamulengo, ou Casimiro Coco, como são chamados. Há cerca de 10 anos deixou de brincar, mas não esqueceu a arte. O afastamento se deu principalmente por problemas de saúde, porém, quando pega os bonecos, brinca como se fosse antes. Para nossa reportagem, seu Zai fez uma apresentação especial.

Em um simples cenário foi montada uma empanada com uma colcha de cama, em um canto da parede da casa dele, no sítio Cantinho da Barra, na zona rural desta cidade. Não demora muito para o espetáculo começar. A sala logo ficou cheia de crianças, filhas, vizinhos que aproveitaram a oportunidade para ver seu Zai botando boneco. “Raramente ele brinca. Mas ele já fez muito isso. Eu acompanhava quando tinha apresentação, mas nunca fiz isso que ele faz. Só assisti e ri com as brincadeiras dele”, comentou a esposa de seu Zai.

As histórias, ele lembra ainda de todas, mas as narrativas engraçadas saem no improviso, durante a interação com o público. “As falas, eu mesmo fui criando. Eu sou natural da região do Crato. Lá tinha um rapaz que colocava boneco, eu ia assistir. Naquele meio, fui aprendendo aquelas falas, aquele negócio. Depois que vim para cá, em 1961, mas em 65, eu lembrei de fazer um boneco. Comecei a brincar, deu certo a brincadeira. Falo como criança, como velho, velha, homem, mulher, tem uma alma, o capeta, uma cobra. Eu não ensaiava. É igual cantador de viola, sai na hora”, contou seu Zai, enquanto mostrava seus bonecos, que ele mesmo confeccionou. “Tem muito marmeleiro por aqui. É uma madeira leve, maneira. Fiz os primeiros bonecos e depois fui melhorando”, ressaltou.

Os bonecos são esculpidos em madeira, pintados e recebem uma parte de tecido, onde são manipulados. Quando seu Zai vai para trás da empanada, parece dar vida aos bonecos com as histórias. “O chefe é o boneco Casimiro Coco, protagonista que está envolvido em diversas histórias. Além dele, outros personagens: Maria Ciforosa, Joana Preta de Caruaru, Soldado Setenta, padre, mãe, noiva, boi, cobra, o capeta de chifre e tudo e até uma alma branca”, contou.

Cultura popular viva

‘Botar boneco’ é cultura popular viva. Segundo a pesquisadora e contadora de histórias Carlê Rodrigues, a arte que precisa ser despertada. É o que ela pretende. “Como ele bem falou. É um dos mestres que confecciona e faz a brincadeira de botar bonecos. Eu conheci a arte de mestre Zai, através de outro bonequeiro, Cleodon de Oliveira, que é daqui de Iguatu, mas atualmente mora em Fortaleza, outro brincante, e também através do livro da Ângela Escudeiro, que fez um livro, um profundo estudo, um mapeamento no Ceará e em outros estados do Nordeste, sobre esses brincantes que trazem essa tradição do Casimiro Coco. De acordo com levantamento realizado pela Ângela, na época, com apoio do IPHAN, vi que no Ceará tinham 71 brincantes, muitos faleceram ou deixaram de brincar. Foram encontrados pelo menos 13 artistas, um deles mestre Zai, aqui no Iguatu. Eles foram entrevistados, fotografados e filmadas suas apresentações na época da pesquisa. Tem no livro ‘Cassimiro Coco de cada dia: botando boneco no Ceará’, da Ângela, que também é bonequeira. Através dessas referências, que conheci a arte do mestre Zai, vim conhecer como é, compreender e valorizar ainda mais das pesquisas sobre essa arte popular. Muitas pessoas não conhecem essa arte. Futuramente a gente pretende fazer uma pesquisa sobre o Casimiro Coco, a partir dessas referências”, contou. “Como ele mesmo disse, depois que está atrás da empanada não é ele não. Se transforma. É importante ver as pessoas rindo. Por isso é importante valorizar a importância desse trabalho que mestre Zai realiza aqui na comunidade do Cantinho”, concluiu.

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