Shakespeare, o companheiro

10/04/2020

Nos tempos dessa deplorável Quarentena o meu conselho é: estudar, rezar, beber e fazer sexo. Não necessariamente nesta ordem. Nunca tive problemas com a solidão. Libri suficiunt.Os livros bastam-me. Redes Sociais são a completa inutilidade. Contudo, devo dizer que senti profundamente o fechamento dos bares e bordéis. Mas fez-me companhia, inter alia, “the old Will”. Mais uma vez pus-me a traduzir o bardo dos Sonnets. Ofereço ao bom leitor o “Soneto 56”, vertido em bom vernáculo, em versos decassílabos e rimados. A forma do soneto, como se sabe, não é a petrarquiana. É o tipo inglês, o elisabetano.

Sonnet 56

Sweet love, renew thy force; be it not said

Thy edge should blunter be than appetite,

Which but today by feeding is allay’d

Tomorrow sharpen’d in his former might:

So, love, be thou; althought today thou fill

The hungry eyes even till they wink with fullness,

Tomorrow see again, and do not kill

The spirit of love with a perpetual dullness.

Let this sad int’rim like the ocean be

Which parts the shore, where two contracted new

Come daily to the banks, that, when they see

Return of love, more blest may be the view;

Or call it winter, which, being full of care,

Makes summer’s welcome thrice more wisht, more rare.

William Skakespeare (1564-1616)

SONETO 56

Renova, doce amor, não fiques triste.

Oculto é bem maior teu apetite;

Pois se hoje te reténs e estás em calma,

Amanhã bem mais forte é tua alma.

Sê firme, amor, e embora neste dia

Sedentos olhos enchas co’alegria,

Faz de novo amanhã, pra que o amor

Não venha a morrer em perpétua dor.

No triste intervalo seja qual o mar

Na praia onde ondas sempre vão quebrar;

Possam sempre os amantes se encontrar.

Volta o amor renovado, qual o verão

Após o inverno em sua estagnação,

Três vezes belo e raro ao coração.

*Texto e tradução: Everton Alencar

Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)

MAIS Notícias
Recordatio Animae
Recordatio Animae

     “... E eu sinto-me desterrado de corações, sozinho na noite de mim próprio, chorando como um mendigo o silêncio fechado de todas as portas.” Bernardo Soares   Este poente de sonho eu já vi; As tardes dolentes e o luar... As velhas arcadas mirando o mar......

QUIDVE PETUNT ANIMAE?
QUIDVE PETUNT ANIMAE?

(Virgilius)   Lux! E jamais voltar ao sono escuro À sede da matéria... Ser uma sombra etérea, Ser o infinito o único futuro!   Não lembrar! Ter a inocência da água; Ser pedra eternamente! Tal qual o mar onde o rio deságua Em música silente......

LUMINA
LUMINA

“Da dextram misero et tecum me tolle per undas” Virgilius, Aeneis, Liber VI, v. 370     Deo gratias! É dia, finalmente. Foram-se os pesadelos como o vento Que varre as folhas numa noite quente... Mas o vento não leva o Desalento!   O sol com seu alento...

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *