Nos tempos dessa deplorável Quarentena o meu conselho é: estudar, rezar, beber e fazer sexo. Não necessariamente nesta ordem. Nunca tive problemas com a solidão. Libri suficiunt.Os livros bastam-me. Redes Sociais são a completa inutilidade. Contudo, devo dizer que senti profundamente o fechamento dos bares e bordéis. Mas fez-me companhia, inter alia, “the old Will”. Mais uma vez pus-me a traduzir o bardo dos Sonnets. Ofereço ao bom leitor o “Soneto 56”, vertido em bom vernáculo, em versos decassílabos e rimados. A forma do soneto, como se sabe, não é a petrarquiana. É o tipo inglês, o elisabetano.
Sonnet 56
Sweet love, renew thy force; be it not said
Thy edge should blunter be than appetite,
Which but today by feeding is allay’d
Tomorrow sharpen’d in his former might:
So, love, be thou; althought today thou fill
The hungry eyes even till they wink with fullness,
Tomorrow see again, and do not kill
The spirit of love with a perpetual dullness.
Let this sad int’rim like the ocean be
Which parts the shore, where two contracted new
Come daily to the banks, that, when they see
Return of love, more blest may be the view;
Or call it winter, which, being full of care,
Makes summer’s welcome thrice more wisht, more rare.
William Skakespeare (1564-1616)
SONETO 56
Renova, doce amor, não fiques triste.
Oculto é bem maior teu apetite;
Pois se hoje te reténs e estás em calma,
Amanhã bem mais forte é tua alma.
Sê firme, amor, e embora neste dia
Sedentos olhos enchas co’alegria,
Faz de novo amanhã, pra que o amor
Não venha a morrer em perpétua dor.
No triste intervalo seja qual o mar
Na praia onde ondas sempre vão quebrar;
Possam sempre os amantes se encontrar.
Volta o amor renovado, qual o verão
Após o inverno em sua estagnação,
Três vezes belo e raro ao coração.
*Texto e tradução: Everton Alencar
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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