Produtores rurais tiveram a oportunidade de conhecer mais sobre a utilização da parte aérea da mandioca para silagem. A alternativa na dieta alimentar dos animais ajuda reduzir custos na propriedade com a alimentação dos rebanhos.
O Dia de Campo aconteceu no Sítio Córrego, zona rural de Iguatu, na quarta-feira, 27, e contou com a participação de secretários municipais de agricultura, técnicos agrícolas, estudantes, produtores rurais, entidades e órgãos governamentais. Através de ensinamentos técnicos, foi mostrado na prática o processo de produção de silagem da parte aérea da mandioca, a rama, como é chamada. O zootecnista e doutor em cultura de forragem Raimundo Reis, um dos facilitadores do encontro, destacou a importância da mandioca para melhoria da alimentação dos animais. “O que estamos defendendo é que a gente inverta a situação da pecuária, não só no Ceará, mas no Nordeste. O que acontece muito nas propriedades, seja para a produção de leite ou ovino e caprino, é a insegurança alimentar dos rebanhos. Resumindo: falta é comida nas fazendas. Infelizmente, isso leva ao empobrecimento do produtor”, contou, afirmando que o tema principal é a mandioca, mas esse trabalho se estende a diversas alternativas de forrageiras adaptadas ao clima semiárido nordestino, plantas com alta produtividade por área e alto valor nutricional, entre essas palma-forrageira, capim-açu, moringa, culturas perenes que aliadas à mandioca melhoram a dieta dos animais. “O tema principal é a produção da parte área da mandioca, mas temos outras alternativas. Aqui na propriedade do Mairton tem palma-forrageira, capim-açu, moringa, são culturas perenes, que ele planta uma vez plantada, pelo menos uns trinta anos vai ter comida para o rebanho”.
Ainda de acordo com o que foi apresentado, a mandioca além de ser uma planta muito rústica, é apreciada pelos animais. Tanto a raiz como a parte aérea da cultura apresentam bom valor nutritivo, podendo conter até 20% de proteína pura.
Alternativas
No cenário de dificuldades enfrentado pelos produtores para garantir a alimentação do rebanho, a rama da mandioca, aliada a outras culturas, ajuda na redução de custos entre 20% a 30%. Foi isso que também despertou o interesse dos produtores. Na propriedade de Mairton Palácio, que recebeu o dia de campo, são 8 hectares, sendo 6 deles produtivos, além do milho, capim, uma grande parte de palma-forrageira, ganhou também a mandioca, experiência iniciada há mais de três meses. Mairton, que cria gado para a produção de leite, mostra-se satisfeito com os resultados. “A gente vive um ciclo de dificuldades e na pecuária leiteira não seria diferente. Nós temos buscado alternativas que sejam mais viáveis para a produção aqui na nossa região para alimentar vacas. Nós éramos totalmente dependentes de grãos. A gente tem buscado substituir esses grãos. A palma, que já é uma realidade na propriedade, agora com a utilização da rama da mandioca como parte proteica em substituição a soja, ou parte da soja. Eu estou começando agora, e os resultados estão surpreendendo a gente. Um resultado muito bom, eu venho utilizando a rama in natura. A gente vem conseguindo diminuir a parte da soja, sem queda na produção. Agora com esse dia de campo, estamos aprendendo como guardar esse material, fazer silagem”, disse o produtor. Em média a produção diária de leite da propriedade chega a 23 ‘quilos’ por vaca.
De acordo com Venâncio Vieira, secretário do Desenvolvimento Agrário de Iguatu, um dos objetivos é justamente incentivar alternativas e alimentar para redução de custos nas propriedades, e o uso de rama da mandioca vai ajudar a reduzir a compra de ração a base de milho e soja.
Os encontros são conduzidos pelo Instituto Luiz Girão, de Fortaleza, que apontam o desenvolvimento positivo do fortalecimento da cadeia produtiva no campo, evidenciando a partir da viabilidade técnica das famílias de produtores rurais uma melhoria da qualidade de vida das famílias envolvidas.
Mandiocultura
No Ceará, através da Programa Hora de Plantar da Secretaria do Desenvolvimento Agrário, são distribuídas anualmente mais de 35 toneladas de m³ de maniva da mandioca. A expectativa é que, através dessas ações, a demanda pelo cultivo dessa cultura aumente no estado, em comparação com outras culturas distribuídas pela pasta. De acordo com Antônio Amorim, presidente da EMATERCE, houve uma queda nos últimos anos da procura pelo feijão, enquanto aumentou a distribuição da palma-forrageira, mais de 6 milhões de raquetes/ ano e do sorgo 600 toneladas/ano, milho representa mais de 86% do grão fornecido pelo programa, e também há interesse de agricultores pela mandioca. “Nós não temos mais como trazer o milho e a soja de fora, porque elevou bastante. A mandiocultura vem sendo provada que tem uma capacidade maior do que a gente imaginava. Pra que servia a mandioca? Pra fazer farinha. E a parte aérea da mandioca praticamente não era utilizada. Então nós temos uma capacidade de fazer até 150 toneladas por hectare de rama. Essa parte é importante porque ela tem a propriedade. A batata (raiz) tem energia e a rama tem proteína. Os agricultores estão passando a produzir o leite e a carne com a riqueza da própria propriedade, isso é muito importante para a gente não ficar dependente do Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte do Brasil, porque além de ser distante, eles têm compromisso muito amplo com a política externa de produção. E a gente aqui precisa criar a nossa própria economia”, destacou Amorim.
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