O trabalho deve edificar a vida e não consolidar a morte. Do nascimento ao desenlace, tudo conspira para que as limitações e a simplicidade que constrange a soberba, demonstradas na manjedoura, justifiquem a glória revelada no calvário.
Vejo amigos e parentes planejando viagens, sonhando com futuros e mais futuros… São empregos, mansões, passeios, festejos – alguns regados a libações pagãs, longe da origem da expressão que fazia adoração a Deus; são previsões e projeções que reportam à vida, aparentando um arrepio que nos sufoca e limita, posto que somos transitórios, frágeis, efêmeros, falhos e finitos.
Trabalhamos. Precisamos, sim. Laboramos com fervor, durante os melhores dias e anos a fio da nossa existência… E o fazemos com afinco, sem hora marcada para terminar, sempre havendo a necessidade compulsiva de mais. Acumulamos riquezas, abrimos mão do ócio criativo e, quando muito, tornamos a ociosidade um pretexto para falarmos sobre as pessoas que nos cercam, notadamente sobre o que possuem de pior, de mais sombrio e mesquinho. Ato vergonhoso para nós, posto que fofocas improdutivas são oportunidades para revelarmos quem somos: pequenos, mesquinhos, senhores da baixa cultura e da imoralidade que nos deixa muito à vontade, infelizmente.
Nem sempre dá tempo. Não raras são as ocasiões em que a vida é ultrajada precocemente, tornando-se refém da agressiva morte, que surge levando tudo, ab-rogando todas as pueris leis de posteridade que criamos sobre a nossa vida. Caronte vem e nos arrasta para o sepulcro, juntamente com todos os planejamentos mundanos que fizemos. Em que pese a temperança, temos pressa. Pressa para o ouro – e que se danem as traças! Pressa para o prazer – o hedonismo é apetitoso, pelo menos parece. De aparências e deleites, vamos vivendo ou aparentando viver, sem percebermos que somos a persona non grata de nós mesmos, nossos maiores inimigos, a própria encarnação da falsidade.
No extremo oposto, estão os que desistem do prazer da vida. Estão todos aqueles que foram consumidos pelo fracasso. Os melancólicos, os frustrados, os derrotados, os que se apossam do vitimismo – para os quais a vida é um fardo insuportável, o mundo é cruel e as pessoas são intolerantes.
“Por que e para que viver?” – Porque a vida é a única dádiva que merece celebração hoje, apenas hoje e agora, a cada segundo! O passado deve nos nortear, apenas nortear. O futuro, no máximo, deve ser uma longínqua e provável expectativa, cheio de possibilidades, apenas possibilidades… Entretanto, se queremos ser felizes, sejamos felizes agora! O amanhã é um tempo que não nos pertence, podendo, inclusive, não acontecer.
Olhando para a manjedoura, percebo que o calvário é, de fato, a assunção para a eternidade, ascensão destinada a todos os que olharam para as coisas do alto, ainda em vida… E o Natal é a vida que habita em cada um de nós. Deus nos abençoe.
Nijair Araújo Pinto – TC QOBM
Cmt do 4º BBM – Iguatu
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