“Não há nada de errado com aqueles que
não gostam de política, simplesmente serão
governados por aqueles que gostam”. – Platão
Acredito que há uma grande responsabilidade quanto a se posicionar politicamente. Me refiro a consciência política independente, não as manobradas. Primeiramente, penso que, antes de mais nada, faz-se necessário ler sobre as correntes existentes – no mínimo, de início, o elementar. Isso porque é preciso conhecer minimamente -, mas logo em seguida, claro, invariavelmente, deva haver um conhecimento mais denso sobre os conceitos da direita e da esquerda clássica, tanto no que diz respeito aos aspectos básicos, quanto aos mais complexos – sobre a sustentabilidade ideopolítica.
Do contrário, o indivíduo cairá na teia do senso comum patético que podemos facilmente constatar nas redes sociais (o antro da superficialidade). Não arranha a superfície, não rompe a barreira da ignorância e limita-se a tão somente, como fantoches manobrados que são, entoarem chavões do tipo “Lula livre”, “Bolsonaro mito” e similares outras tolices típicas de quem fora dissuadido mediante tautologia do sofista bem articulado da vez.
Sem identidade e interesse pelo conhecimento verdadeiro, o que resta são seres na dependência de outros. Estes, por sua vez, dizem o que deve ser pensado, dito, crido e até mesmo sobre o que ou quem odiar. Assim sendo, considero que, para chegarmos ao amadurecimento político em sua consciência altiva e intelectual, não há a quem seguir (me refiro a “gurus” influenciadores e seus vídeos lacradores e/ou problematizadores) mas, todavia, quem ler, sim!
E não preciso ser óbvio, imagino, em dizer que isso não significa que identificar-se com a direita ou a esquerda seja necessariamente um erro ou um acerto. Trata-se de ideologia, de política, de, por que não dizer, filosofia. Há intelectuais interessantes em ambas as correntes. O caso é não se deixar levar como uma Maria-vai-com-as-outras.
Defenderei sempre uma liberdade individual que verdadeiramente nos distancie dessa insistência em nos colocar como reles células de uma massa homogênea, fadada à coletividade imposta, determinada e sem qualquer outro prisma a vislumbrar. E é precisamente na leitura que vamos encontrar a chave para nos descobrirmos enquanto ser político e humano. Daí, sobre qual linha de pensamento você se identificará, aí só diz respeito a ti. Com tanto que seja mediante a liberdade e o autoconhecimento, que não seja mediante forças externas, já penso que valeu a pena.
Ao término do encontro com os grandes teóricos – antagônicos muitas vezes entre si – lidos, decidir-se (ou identificar-se) por ser conservador, liberal, progressista… em suma, de esquerda, direita ou centro… o importante é ter tido a experiência de se encontrar mediante a honestidade e a não influência. De forma crítica, independente e justa, acredito que o sujeito estará, por fim, preparado para arcar com a responsabilidade de explanar sobre política, com a propriedade obtida mediante o empenho do esforço solitário na companhia dos amados livros lidos.
Identifico-me como alguém de direita, principalmente quanto a alguns princípios conservadores e liberais, não obstante o fato de eu não concordar com tudo o que essas correntes apregoam. Mas advirto, utilizando-me, aqui, de uma frase do grande cientista político João Pereira Coutinho: “Um esquerdista moderado é preferível a um direitista reacionário”. Portanto, fujamos dos extremos reacionários e também revolucionários. Opto pela prudência, temperança, lucidez. Amadureçamos, ainda que tardiamente… amadureçamos.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
0 comentários