“Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem”.
– Mario Quintana
Em decorrência de uma pobreza inalterável de intelecto e espírito dessa geração de narcisistas que recorrem, de minuto em minuto, às redes sociais para mostrar ainda mais suas vidas imbecis, me pergunto se o professor realmente sente-se orgulhoso por ter feito parte da vida escolar e/ou acadêmica dessa gente. No último dia 15, Dia do Professor, podemos ver péssimos alunos homenageando esses sofríveis profissionais. Sei também, todavia, que há muitos professores com a mesma pobreza intelectual e cabeça oca de muitos dos seus alunos, mas me recuso a acreditar que esse tipo seja maioria.
Sempre estranhei essa incongruente homenagem, que destoa da realidade: os alunos, em sua esmagadora maioria, por conta da sua repulsa quanto à Educação, estão se lixando para seus mestres. Homenagem ao professor?… Você acha mesmo que um professor fica contente por um despreparado e desinteressado postar um texto copiado e colado em sua timeline? Não. Creio que a satisfação do professor, a sensação de missão cumprida se dá ao ver que o seu aluno depreendeu o conteúdo por ele lecionado; que o trabalho não foi em vão. Seu professor não é burro como você, que homenageia, por meio de frases clichês, e finaliza o texto com os típicos erros grotescos de português. De nada adianta ser um péssimo aluno e pagar de amante da Educação e dos profissionais dessa área.
Na última sexta-feira, as redes sociais encontram-se apinhadas de homenagens aos professores. São alunos e ex-alunos compartilhando odes aos profissionais da Educação. Seria verdadeiramente lindo… se fosse honesto. A realidade nos mostra que a maioria da população nutre verdadeiro asco pela leitura e busca da verdade. “Parabéns professor”(sic), – assim, sem a necessária vírgula, denuncia o desconhecimento básico oriundo da ausência de entrosamento para com os livros e ensinamentos ignorados na sala de aula durante anos, praticamente perdidos de um todo -, é o que mais constatamos nos “faces da vida”. O professor, coitado, deve se retorcer de desgosto ante tais homenagens execráveis; aviltantes à categoria que tanto empenha esforços no nosso decrépito sistema de ensino.
O conhecimento, a sede por leitura, ao que parece, só é reconhecido se esta for acompanhada de um bom emprego… Trata-se de um academicismo de cunho puramente mercadológico enquanto alvo… E isso – o desprezo pela leitura – me fez lembrar um trecho do grande Lima Barreto e o seu famigerado livro “Triste fim de Policarpo Quaresma”. Ei-lo: “Não recebia ninguém, vivia num isolamento monacal, embora fosse cortês com os vizinhos que o julgavam esquisito e misantropo. Se não tinha amigos na redondeza, não tinha inimigos, e a única desafeição que merecera, fora a do doutor Segadas, um clínico afamado no lugar, que não podia admitir que Quaresma tivesse livros: “Se não era formado, para quê? Pedantismo!”. O subsecretário não mostrava os livros a ninguém, mas acontecia que, quando se abriam as janelas da sala de sua livraria, da rua poder-se-iam ver as estantes pejadas de cima a baixo.”
Parabéns, professores; parabéns, alunos que verdadeiramente amam o conhecimento, independentemente de qualquer outro beneficio remunerado que ele futuramente possa vir a promover.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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