Cícero é um ‘matador de aluguel’, personagem interpretado pelo ator Thomaz Aquino, no filme ‘As Verdades’, lançado na quinta-feira, 30, nas plataformas digitais e também em circuito nacional. Thomaz Aquino, ator premiado do cinema, TV e teatro, que atuou em outras produções premiadas internacionalmente, como ‘Bacurau’, ‘Curral’, ‘Deserto Particular’ e ‘Todos os Mortos’, interpreta um dos personagens mais importantes de sua carreira. ‘As Verdades’ surge como um divisor de águas na trajetória deste pernambucano, nascido em Recife, mas com uma ligação muito direta com Iguatu, pelo fato de ser neto de uma lenda, o comerciante iguatuense (saudosa memória) Luiz Perpétua. Sobre seu novo personagem no filme e sua carreira no cinema, teatro e TV, Thomaz Aquino conta nesta entrevista exclusiva para o A Praça
A Praça – Qual o roteiro do filme ‘As Verdades’?
Thomaz – Esse filme é um longa metragem, se chama ‘As Verdades’, ele é baseado numa adaptação de um conto japonês chamado ‘Dentro do Bosque’, e fala sobre um crime, contado por três histórias, né? São três vieses que têm o filme contado. Então qual a verdade que é dita aí? A trama policial se passa através disso. Meu personagem, Cícero, conta a versão dele, desse crime que ocorreu. Um dos protagonistas é o ator Lázaro Ramos, ele interpreta um detetive e tenta desvendar o mistério dessa história. Esse filme fala muito sobre o poder que tem a palavra, qual a história verdadeira, de fato é? A direção é do José Eduardo Belmonte e traz no elenco Lázaro Ramos, Drica Morais, Zé Carlos Machado, Bianca Bin, Edvana Carvalho e eu, Thomas Aquino.
A Praça – Qual a atuação do seu personagem Cícero?
Thomaz – Ele é conhecido como um ‘matador de aluguel’. Então, como são três versões de uma mesma história, cada personagem traz sua verdade. O Cícero conta a versão dele, a Bianca Bin, que faz a personagem Francisca, conta a versão dela, e o personagem Valmir, que é interpretado pelo ator Zé Carlos Machado, conta sua versão também. Então a gente vê o personagem que eu faço Cícero, em três versões. Isso é interessante, mas a princípio, ele é um matador de aluguel.
A Praça – Como o público está tendo acesso ao filme? Em que canais está disponível?
Thomaz – Esse filme entrou em cartaz nos cinemas, na quinta-feira, 30 de junho, isso em algumas cidades, e depois indo para o Brasil como um todo, né? A princípio vai estrear aqui no Rio de Janeiro, em São Paulo, enfim, em outras capitais.
A Praça – Quem assina a produção do filme?
Thomaz – Ele é produzido pela Globo Filme, pelo Canal Brasil, também, tem a produção da Gullane Entretenimento, que são consideradas boas produções, para levantar e impulsionar esse filme.
A Praça – Qual sua opinião sobre seu personagem Cícero?
Thomaz – Eu considero um dos grandes personagens de minha carreira, sim, ressalto que todo personagem para mim tem sua importância. Então esse é mais um deles que conta uma história fictícia, nessa nossa cultura nacional.
A Praça – No filme você atua ao lado de atores renomados, com carreira reconhecida nacionalmente, rostos conhecidos da TV, cinema e do teatro.
Thomaz – Ah, me sinto muito orgulhoso e lisonjeado, por trabalhar com eles, pela oportunidade de trabalhar com Lázaro Ramos, Bianca Bin, Drica Morais, Zé Carlos Machado, e a direção brilhante do José Eduardo Belmonte, sem dúvidas um passo muito importante de minha carreira, me deixa muito feliz.
A Praça – Antes de ‘As Verdade’ você atuou em outras produções, uma delas foi “Bacurau”, que ganhou reconhecimento fora do Brasil. Como foi a repercussão para você?
Thomaz – “Bacurau” foi muito importante por ter tido esse reconhecimento internacional. Ganhou o prêmio do Júri, o terceiro mais importante do Festival de Cannes e fazia mais de 50 anos que um filme nacional do Brasil não ganhava um prêmio lá, e “Bacurau” ganhou esse prêmio. ‘ O Curral’ também foi outro filme brasileiro, onde atuei, que ganhou prêmios internacionais, eu ganhei o prêmio de ‘Melhor Ator’ na Espanha, no Festival de Huelva, ganhamos também o prêmio do Júri Popular, também na Espanha, e agora ‘O Curral’ está na Netflix para quem quiser assistir. “Bacurau” está no Globo Play, que é uma outra plataforma digital.
A Praça – Em quais outras produções você atuou, além desses, ‘O Curral’, ‘Bacurau’ e ‘As Verdades’?
Thomaz – Tem também ‘Deserto Particular’ que foi indicado ao Oscar, que está na HBO Max, para quem quiser assistir. ‘Todos os mortos’, que eu ganhei o prêmio de ‘Melhor Ator Codjuvante’, no Festival de Cinema de Gramado, são produções que também deixaram, cada uma sua marca, porque em cada filme desse, os personagens também foram marcantes, porque cada um também veio para contar sua história. E o cinema é isto, é deixar você expectador, livre, para poder interpretar de várias maneiras, como aquela história pode lhe tocar e transformar, e essa é a nossa função, enquanto artista, enquanto cultura, é fazer a gente aprender e construir.
A Praça – Como você se descobriu para o mundo artístico, de modo especial para o cinema, e quais suas origens?
Thomaz – Eu sou de Recife, nasci lá, mas meu pai é daí do Ceará, de Iguatu, meu pai, José Aquino, da família aí dos ‘Perpétua’, e minha mãe é paraibana, então eu carrego essas características. A vocação, na verdade, eu descobri desde criança, eu sempre gostei de brincar com minha irmã Rafaela, brincar de interpretar. Meu pai tinha uma câmera, a gente colocava a câmera e ficava fazendo brincadeiras, às vezes eu pegava um violão, às vezes ela se passava por apresentadora, eu fingia ser alguém de uma plateia, fingia ser um vendedor, enfim, a gente gostava de brincar, mas com 20 anos de idade foi quando eu comecei a tomar um rumo mais profissional. Foi quando eu fiz um teste em Recife e consegui um papel para fazer a primeira peça de teatro, isso, no ano de 2006, chamada ‘O Grande Circo Místico’, direção de Nina Wirtti.
A Praça – O que você fez, buscando o caminho das artes, TV, cinema, teatro?
Thomaz – Ah, fiz muita coisa, já cuspi muito fogo, que é chamado de ‘Pirofagia’, fiz malabares, trabalhei em circo, já fiz ‘bico’ trabalhando em lojas, como ‘Papai Noel’, e durante esse período, dos 20 aos 25 e 28 anos, também frequentei a faculdade de jornalismo, e nessa faculdade eu pude estagiar numa Rádio Comunitária, chamada Rádio Capibaribe, na comunidade de Cajueiro e a frequência era 1.240 KHZ AM, e ali eu fui muito feliz também, pude, de certa maneira praticar a arte do rádio também.
A Praça – Qual foi sua primeira participação no cinema e em que ano?
Thomaz – Foi no ano de 2010. Eu fiz a minha primeira participação no cinema, num filme chamado ‘A febre do Rato’, que foi uma participação como figurante, no ano de 2011 eu participei de outra produção, ‘Tatuagem’, um filme de Wilton Lacerda, que foi muito premiado também, nacionalmente e fora do Brasil. Em 2012 eu fiz ‘Praia do Futuro’, uma pequena participação neste filme dirigido pelo Karin Ainouz, e no ano de 2017 eu voltei para o cinema, para fazer a primeira série na Globo chamada ‘13 dias longe do sol’, em 2018 eu fiz “Bacurau”, e segui por esses outros filmes, ‘O Curral’ e agora, ‘As verdades’.
A Praça – Você se inspirou em alguém para interpretar esse personagem, Cícero, ou os personagens que você interpretou em ‘O Curral’, ‘Bacurau’? Existe alguém do cinema brasileiro ou estrangeiro, que você sempre gostou de ver e se inspirar para criar seus personagens?
Thomaz – Para fazer Cícero, eu não me inspirei em ninguém, especificamente. O que eu procuro fazer em todas as construções dos meus personagens é sair de um estereótipo, tentar fazer algo diferente, nunca igual. Eu procuro fazer algo diferente para que as pessoas possam perceber que o mundo é cheio de possibilidades. Mas um artista nacional em quem eu me inspiro muito é no próprio Lázaro Ramos, tem também o Wagner Moura que para mim são dois ícones do nosso registro nacional, e também o Milhem Cortaz, que é um excelente ator, e dos nomes do cinema internacional, eu gosto muito do Wil Smith. Para mim ele é uma grande referência, e referência afro, da minha origem também, além disso é um artista de renome, um grande artista, com reconhecimento no Mundo inteiro, para mim ele é incrível. Mas para fazer o personagem Cícero, não me inspirei em ninguém, apenas no processo de construção, no momento dos ensaios, e somente com o pensamento de não fazer as coisas estereotipadas, e sim, diferentes.
A Praça – É verdade que o ex-presidente americano Barak Obama gostou de um dos filmes que você fez? Qual foi o filme e qual a importância disso para você?
Thomaz – É verdade. Ele viu o filme e gostou. Foi “Bacurau”. Isso mostra como a gente tem uma potência nacional de cultura. Isto mostra como o Brasil é incrivelmente incrível em fazer, cinema, fazer cultura, fazer arte. E “Bacurau” é um filme político, na verdade, a arte é política, né? A gente tem que pensar a política, não apenas como uma questão financeira, como um ganho material, de dinheiro, de finanças, a política ela é uma democracia em visão a um status onde todo mundo viva coletivamente bem. Precisamos pensar na política como uma ‘democracia coletiva’, e não num ganho de dinheiro. E o filme “Bacurau” representa isso, nessa coletividade, nessa união desse povo, nessa luta, nas origens, né? Mas o bom é isso, e Barak Obama enxergou isso nesse filme, e para mim foi incrível, porque fazer parte desse projeto, do processo de ser artista e de mostrar que a cultura nacional tem muito o que mostrar, só me deixa mais feliz.
A Praça – Você tem interesse de trabalhar na TV? Se pintar um convite para um trabalho, novela, minissérie, documentário, você toparia, ou sua paixão é diretamente o cinema?
Thomaz – Eu acredito que todo ator ou atriz que trabalha no ofício de interpretação precisa sonhar alto. E eu sonho em trabalhar, sim, em todos os campos, que o meu ofício permite. Então, eu já fiz teatro, já fiz cinema, amo fazer os dois, já fiz televisão numa série chamada ‘13 dias longe do sol’, fiz ‘Boca a Boca’, que é uma série da Netflix, ‘Manhã de Setembro’, uma série para a Amazon Prime, fiz ‘Insânia’, uma série para a Star Plus, e agora eu estou fazendo mais uma série para a Globo, que se chama ‘Os Outros’, que vai estrear ano que vem, e com certeza se pintar um convite para uma novela eu devo fazer também, para experimentar, essa escola de fazer a novela, porque existe a escola de fazer o teatro, o cinema, a escola de fazer as séries e a escola de fazer a novela, e esta é mais uma que eu quero experimentar.
A Praça – Você é neto do lendário panificador Luiz Perpétua. Como era a sua relação com ele e como é sua relação com sua família em Iguatu?
Thomaz – Olha, eu nunca conheci meu avô, somente as grandes histórias. Eu nasci, e ele já havia infelizmente falecido. Já minha avó Expedita, mulher dele, conheci bastante, e pude aprender a jogar dominó nos tempos livres dela! Minha relação com a família em Iguatu foi mais na infância, onde pude conhecer meus primos, tios e tias, e também as belezas do rio Trussu. Lembro muito da grande feira que tinha na frente da casa dos meus avós todo dia pela manhã. Com certeza Fábio George vai saber o nome da feira. Então foi mais a infância que passei a viajar para o Ceará. E também, eu adorava passar uma boa tarde na padaria da minha tia Perpétua, onde ela sempre me dava um pãozinho gostoso para comer!
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