Plutarco de Queroneia (I século AD), no oitavo volume de suas Vidas Paralelas, relatando sobre a vida de Marco Antônio, faz uma breve digressão para nos apresentar Timon de Atenas. Segundo este historiador, Timon era odiado por todos na cidade e ele próprio era um misantropo e detestava tudo e todos. Inimicus generi humani. “O inimigo do gênero humano”, assim o autor o qualifica.
Conta ainda o grego de Queroneia dois episódios para ilustrar tal nefanda rejeição. Timon pôs um terreno seu à venda. Depois reuniu os cidadãos de Atenas e conclamou: “Vendo esta minha propriedade. No fundo há uma figueira onde vários já se enforcaram. Não façam cerimônia. Se alguém mais quiser morrer, esteja à vontade.”
De outra feita, um cidadão, querendo aproximá-lo dos companheiros, congraçá-lo e apagar o estigma que o perseguia, organizou com dificuldade um banquete para ele. Muitos estavam reunidos. O próprio Timon, para surpresa geral, compareceu. “Então, gostaste da festa?”, indagou o organizador. Ele respondeu: “Está ótima. Mas é pena que estás aqui.”
Timon – e isto não nos surpreende – escreveu o seu próprio epitáfio amaldiçoando todos os viventes. Mas o que há por trás de tanta misantropia, de tanto rancor?
Não era ódio ao gênero humano. Era piedade. Timon, como filósofo cético, não queria participar da hipócrita sociedade ateniense. São vazios os interesses da Pólis. O verdadeiro sábio está ausente e distante deles. Omnia mea mecum porto. (Horácio). Tudo o que é meu trago comigo.
Escreveu também o poeta Bias: “A maior parte dos homens é também a pior.” A multidão é regida pela Doxa, o cego e tolo senso comum. Fujamos disso. Mas atenuemos o azedume de um Timon. A Caritas cristã, por exemplo, nos dá a real perspectiva de nossa miséria, de nossa inexorável fragilidade rumo à morte.
Pouco tempo depois da vida de Timon, uma devastadora peste assolou Atenas. Lucrécio, no sexto canto de seu De Rerum Natura, com cores fortíssimas e pessimistas a descreve. Ninguém se distingue na felicidade; todos se igualam na tragédia.
Pobre Timon! Pobres cidadãos de Atenas! Pobres de nós!
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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