A chegada de um novo ano, para muitas pessoas, representa uma época para fazer planos, renovar promessas, e, principalmente, resoluções. A passagem de ano é cercada de muito simbolismo, comemorada de diferentes maneiras. Alguns seguem tradições, outros têm superstições e rituais que são realizados na virada do ano, com a esperança de trazer sorte, deixando o que foi ruim para trás.
Uma tradição bastante seguida por muitas pessoas é vestir branco, que representa a paz, outros querem mais amor, encontrar um novo amor, usam vermelho, pela tradição o amarelo representa fortuna, dinheiro e o verde, esperança, entre outras tantas cores e seus significados. “Eu costumo sempre vestir uma roupa de uma cor diferente a cada ano. Já vesti amarelo, vermelho, branco, azul, e até preto. Quando vesti preto, foi um dos meus melhores anos. Também gosto de bater o pé direito no chão com força na passagem do ano, pra gente seguir firme no ano que chega. Começar o ano com garra e determinação”, comenta a costureira Keuly Moura.
Rituais
Os adeptos e simpatizantes de religiões entre elas umbanda e candomblé costumam fazer oferendas a Iemanjá, a deusa dos mares, lançando flores ao mar, na virada do ano. Outros pulam sete ondas e fazem pedidos. Tem também a tradição com a alimentação, alguns não comem aves porque “ciscam para trás”, tem alguns animais que são rejeitados e outros que são preferidos, mas ceia de réveillon que se preze não pode faltar a lentilha, “Muita gente acredita que traz sorte. Não tenho superstição. Tradição, eu conservo a de meu avô paterno: despertar e levantar cedo pra observar a barra de Ano Novo, que acontece no nascente ao nascer do sol. É uma renovação da Barra de Natal”, ressaltou o cantor e compositor Zé Vicente.
“Eu gosto de esperar a passagem de ano descalça. Desço do salto e piso com os pés firme na terra, pra sentir a energia do nosso solo. Como se recarregasse as energias. É uma sensação muito boa. Mas eu não sou muito ligada a essas coisas, mas faço isso. Em relação às cores, também nunca liguei, mas coincidentemente visto roupas claras”, afirmou a comerciante Claecy Vieira.
Sem chance ao azar
A psicóloga Nathália Freitas explicou um pouco sobre essas influências das tradições e superstições seguidas na virada de ano. “A superstição acompanha o indivíduo desde que este toma consciência de sua existência. Sempre existiram comportamentos supersticiosos, e cada cultura tem os seus próprios. É como se cada superstição tivesse algum tipo de utilidade para nossa existência. Na nossa cultura, temos várias superstições concentradas. Imagine quantas pessoas acreditam que o número 13 é sinônimo de azar. Ou quantas pessoas acreditam que usar um amuleto as protege do mau-olhado. Há ainda os que fogem dos gatos pretos e evitam a todo custo passar embaixo de uma escada. Sendo mundialmente famosas ou de efeito local, o mais fascinante dessas crenças populares é que, por mais que saibamos que são irracionais, ainda assim preferimos não dar chance para o azar e continuar acreditando nelas”, disse.
Nathália acrescentou ainda que se deve observar é que, embora não haja nenhum argumento lógico ou científico para validá-las, as pessoas que realmente têm essas crenças tendem a condicionar suas vidas com base nelas. “Em alguns casos podem ser pequenos gestos de pouca importância, mas em outros podem se tornar verdadeiros rituais. Isso acontece por causa da velha necessidade humana de controlar todos os aspectos da vida. Até mesmo os que não dependem de nós”.
Alívio e conforto
“Superstições são úteis quando não temos controle sobre algo que desejamos muito que aconteça”, explica o psicólogo comportamental Stuart Vyse, especialista em crença e superstições e autor do livro “Believing in Magic: The Psychology of Superstition” (“Acreditando em Mágica: A Psicologia da Superstição, ainda sem tradução no Brasil).
Segundo ele, esse processo acontece em situações associadas a algo importante, como o nascimento dos filhos, um casamento ou uma entrevista de emprego. “Queremos muito que aquilo dê certo, mas não temos como garantir que isso vai acontecer do jeito que queremos”. Os rituais e amuletos, então, criam uma falsa sensação de que algo foi feito para garantir que o desfecho positivo vai acontecer. E isso nos dá uma sensação de alívio e conforto”.
Condicionamento operante
Ainda de acordo com Nathália, o paralelo entre a psicologia e a superstição é o chamado condicionamento operante identificado por B. F. Skinner. “Para isso, ele começou a trabalhar com pombos. Quando esses animais apertavam um botão dentro de sua gaiola, eles recebiam comida. Com o passar do tempo, eles “aprenderam” que o botão lhes dava comida, então o apertavam quando estavam com fome. Mais tarde, o sistema mudou de tal forma que, quando os pombos realizavam certos movimentos, recebiam o reforço, como resultado final, incorporaram “comportamentos supersticiosos” relacionados aos movimentos com a intenção de obter a recompensa. Isso é muito parecido com o que acontece nos seres humanos com as superstições. Uma pessoa pode associar uma consequência positiva ou negativa a um comportamento específico. Se, por exemplo, formos fazer uma prova com uma camiseta específica e obtivermos uma boa nota, é possível que usemos a mesma roupa para fazer as provas seguintes. Assim como se acreditamos na superstição do gato preto e um dia cruzamos com ele na rua, é fácil usar esse encontro como desculpa para tudo o que acontecer de negativo durante esse dia, associando o positivo com outras causas. Geralmente a superstição, por si só, não é ruim. Elas são simplesmente um conjunto de crenças que habitam a mente. No entanto, as superstições podem se tornar um problema quando atingem certos níveis, por exemplo, depender de um objeto ou amuleto a ponto de não se sentir seguro sem ele. Isso pode aumenta os níveis de ansiedade e diminui a confiança em nossas capacidades. Depender a tal ponto de um objeto ou comportamento subestima a capacidade que temos de alcançar as coisas por conta própria. É uma maneira sutil de tirarmos o mérito de nós mesmos e desviá-lo. A melhor maneira de lutar contra a superstição é fazendo uso do poder da nossa mente. Adquirir uma atitude crítica em relação às associações que estabelecemos e com as quais operamos é um bom fator de proteção contra esse tipo de crença”, ressalta concluindo que “Expor-se a situações em que você pode se sentir impotente por não usar seus amuletos é uma boa maneira de atenuar a ansiedade que isso gera. Afinal, a superstição nada mais é do que uma crença, e não uma lei da natureza. É por isso que também é importante aprender a controlar a ansiedade, não só para casos de superstição, mas também para a vida em geral. É provável que a psicologia da superstição nos acompanhe, para sempre. Seus benefícios podem ser vários: como reduzir a incerteza ou aumentar o senso de controle. Por outro lado, a parte negativa aparece quando nos limita ou nos gera ansiedade”, concluiu.
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