Escrevo esta coluna viajando entre Praga e Viena. Ontem, já no final do dia, fui informado por colegas do IFCE de que o Centro Educacional Ruy Barbosa, da minha longínqua Iguatu, sob força de um ato da CNEC, em Brasília, estava encerrando sua gloriosa história como educandário de respeitada tradição. Não tenho a palavra exata com que possa definir minha tristeza.
Lembro com saudade do legendário Edson Luiz Cavalcante Gouvêia, ou simplesmente Dr. Edson, seu incansável e mui admirado construtor, professor e diretor, com quem tive a grata satisfação (e grande honra) de caminhar por muitos anos as desafiadoras searas da Educação.
Dr. Edson foi meu companheiro de muitas lutas em pelo menos três instituições de ensino: o próprio Ruy Barbosa, a antiga Escola Agrotécnica Federal de Iguatu e, por último, a Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu. Com ele aprendi muito, e a ele devo muito da paixão pelas coisas do ensino, da aprendizagem, da extensão e da pesquisa.
Por instantes, enquanto, através da janela do trem que me leva à capital da música, meus olhos vislumbram a beleza estonteante da paisagem eslava, meu coração sente a inútil indignação em face do que ocorre ao Ruy Barbosa, essa escola de que nos orgulhamos um dia, e que, agora, sabemos objeto do descaso e da indiferença, vítima do talvez ou do quem sabe.
É triste a realidade de um povo submetido aos governantes que se tem hoje no Brasil. É inominável os valores que os move; é inominável a falácia com que constroem seus discursos; é inominável o que identificam como seus objetivos prioritários.
Em nome da Democracia, a aniquilam; em nome da Educação, a destroem; em nome dos direitos humanos, os negam peremptoriamente; em nome da dignidade de um povo, a espezinham perversamente; em nome da soberania do país o entregam vergonhosamente, que me perdoem a recorrência de tantos e tão vulgares advérbios, sem os quais não saberia expressar a minha revolta e a minha decepção.
Das portas que se cerram do que foi um dia o Centro Educacional Ruy Barbosa, na distância inquantificável em que me encontro da cidade em que nasci, como que me é possível escutar o pedido de socorro que, em vão, ecoa pelos quatro cantos do meu país tão roubado em sua dignidade e sua decência.
Uma escola que fecha suas portas, são olhos que ficam cegos para o horizonte em que brilham o sol e a esperança.
Álder Teixeira é Mestre em literatura Brasileira e Doutor em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais
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