Sócrates, conforme os escritos de Platão, foi o principal veiculador da teoria da Recordatio animae. A teoria da Recordação. Possivelmente as raízes mais pretéritas dessa profunda teoria encontram-se na esotérica religião egípcia, a qual foi assimilada por Pitágoras e por outros filósofos pré-socráticos. Os gregos também a conheceram pelo termo metempsicose.
Segundo tal crença, a alma vivia em plenitude, em meio às Formas (Platão), antes de cair na prisão do corpo. Então, eventualmente, em momentos de iluminação, pode tocar o Inteligível e recordar-se nebulosamente do Lost Paradise. Assim sendo, conhecer é reconhecer. Saber é encontrar-se na divina rememoração.
Particularmente, parece-me extremamente verdadeira tal teoria. Falo de uma Veritas advinda não da Ratio, mas dos caminhos da intuição e da fé. A contemplação da arte pura pode, verbi gratia, proporcionar-nos tais insights da divina lembrança.
De nenhum modo, devo dizer de minha certeza, somos Tabulae rasae, como queriam os Empiristas. Há ideias inatas, há verdades absconsas e insuspeitas; apenas evocadas per nubila…
Forte presença em minha formação têm tais ideias. Deveras inspiram-me. Eis uma ode sob tal influxo. A estrofe é horaciana, de molde sáfico-alcaico, combinando decassílabos com hexassílabos. Ei-la:
VESTIGIA
“Por sobre o que Eu não sou há grandes pontes”
Mário de Sá-Carneiro
Em sonho já estive a folhear
Estes livros que amei;
Como alguém que partisse e que ao voltar
Nunca fosse! Sonhei!?
A Verdade é uma face conhecida;
Apenas não lembrada.
Uma flor numa página esquecida…
Alma revisitada.
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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