Depois de duas ou três semanas em Paris, fomos à cidade portuária de Calais, onde apanhamos um ferryboat com destino à Inglaterra. Não havia, à época, o Eurotúnel, e a travessia do Canal da Mancha era feita necessariamente de navio.
Viajamos por toda a noite, chegando à Inglaterra numa manhã demasiadamente fria. Mas estávamos bem-dispostos, o navio era extremamente confortável e pudemos dormir bem durante todo o trajeto. São navios grandes, com boate, cassino, bares e restaurantes. As cabines oferecem conforto e proporcionam sensação de bem-estar.
De Dover, onde desembarco, vou de ônibus até Londres. Estou ansioso por conhecer esta cidade tão rica em cultura, seus museus, seus concertos gratuitos em praças e logradouros. À época, como estudasse a língua inglesa, comunicava-me com alguma desenvoltura, mas, foram bastantes os primeiros minutos em território britânico para me convencer de que era péssimo o meu inglês. São grandes as diferenças de pronúncia e léxico, mas, sobretudo, é diferente o ritmo da fala, bem mais rápido que o americano. Por sorte, C., que me acompanha nesse tour por países da Europa, fala fluentemente o inglês e assume o papel de porta-voz do casal.
Aqui, muito mais que noutras cidades do continente, que vimos visitando há dias, a nosso favor existe nos jornais e revistas farta informação sobre eventos, shows, espetáculos de teatro e dança, e, claro, com riqueza de detalhes, quase tudo sobre os principais pontos turísticos da cidade – com a vantagem, sobre os guias tradicionais, de serem atualizadas as informações.
Agora, estamos diante de uma escultura de Auguste Rodin, no Parlamento Inglês. É a obra Burgueses de Calais. Em Paris, havíamos conhecido algumas de suas principais realizações escultóricas, como O pensador e a particularmente bela O beijo. Deslumbra-nos o realismo que emana da escultura, impressionam-nos a força e a criatividade desse grande artista.
Um dos destaques da arte impressionista, Rodin transformou a concepção dominante entre os escultores de sua época. O inacabado intencional de suas obras nos envolve e seduz, é algo provocativo, sugestivo e instigante.
Atravessamos a pé a Ponte de Londres, uma das muitas que cruzam o Tâmisa. À frente, vê-se o imponente edifício do Parlamento, com seu estilo romântico ainda marcado por um aroma neoclássico. À nossa direita, a Tower Bridge, a ponte báscula construída em fins do século XIX e um dos mais famosos cartões postais do Reino Unido.
- e eu apanhamos um barco para um passeio inesquecível pelo “River Thames”, como diz, orgulhoso, com a voz um tanto encatarroada, o barqueiro que nos conduz nessa tarde londrina repleta de poesia e encanto.
Como custasse caro contratar um guia particular, o que é um jeitinho bem brasileiro de aproveitar as oportunidades, a exemplo do que vimos fazendo desde a França, de onde partimos, aguçamos os ouvidos a fim de escutar o que diz a um grupo de turistas o jovem cicerone, com seu inglês intencionalmente pausado e, tanto quanto possível, fácil de entender.
Comenta que a Tower Bridge, sob a qual passa o barco em que estamos, neste instante, tem inspiração escocesa, lembrando, por isso, os fortes medievais da Escócia. A ponte levadiça se separa em metades iguais por força de um mecanismo hidráulico movido a água pressurizada.
Inaugurada por volta de 1894, 95, a Tower Bridge, Ponte da Torre, em português, tem a rigor duas majestosas torres, as quais se alçam ao céu de Londres, arrogantes, dando a ver a sua augusta autoridade de símbolo desta cidade a um tempo imponente e encantadora.
Álder Teixeira é Mestre em literatura Brasileira e Doutor em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais
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