Klysman Cardoso
Desde cedo fui me embora do meu sertão,
deixei minha mãe, meu pai, meu irmão.
Fui embora sem saber se voltaria,
com medo do novo, novo dia.
Deixei minha morena me esperando na janela,
o sol alumiava, minha deusa tão bela.
Lágrimas caíam dos seus olhos como uma cachoeira,
ao me ver passar da última porteira.
Peguei a estrada segui o caminho,
triste, com frio e fome, e sempre sozinho.
Tinha uma viola a tocar,
lembrando do meu amor na luz do luar.
Pegava no sono sempre chorando,
ouvindo o som da noite cantando.
Debaixo de um juazeiro sempre a acordar,
era acordado com o sol a alumiar.
Juntava as coisas era pouquinho,
pegava tudo e seguia o caminho.
A saudade me machucava muito por dentro,
era triste o pior sentimento.
Aquilo me fazia pensar em desistir,
mas eu precisava seguir.
Dias e noites a sofrer,
sem ao menos tendo a garantia de ganhar ou perder.
Eu pensava que era uma paixão,
cheguei na cidade a maior decepção.
Nada era de verdade, a maior ilusão.
Era discriminado por minha origem e cor,
não tinha ninguém, saudades do meu amor.
Ali percebi que era uma roubada,
por que deixei minha terra amada?
Sem dinheiro ou lugar para dormir,
a rua era o meu lar.
A noite é dura penso em desistir,
mas tenho que resistir,
e lutar para um dia eu poder voltar.
Vendi meus sonhos de criança, lutei pela esperança.
Um dia ei de voltar para o meu sertão,
para os braços da minha açucena.
Que saudade meu Deus da minha morena.
Eis que o dia chegou,
sentado na praça comecei a cantar.
Falava de amor, falava de dor,
e um bom homem a me observar.
No final daquilo tudo, ele veio me perguntar.
Oh! matuto do Nordeste, em minha festa queres tocar?
Ali tinha meu primeiro trabalho, contrato único.
Sabia ali que iria voltar, para meu sertão, meu Ceará.
Consegui dinheiro, consegui respeito.
Voltei até de avião, para minha terra, para meu sertão.
Lágrimas em meu rosto corria,
meu coração transbordava de alegria.
Sentindo o cheiro da terra do amor,
sentindo o sol e todo o calor.
Refaço meus passos agora voltando,
hoje alegre e cantarolando,
ao longe avisto o que é meu,
Aquele sorriso de quem nunca me esqueceu.
Abro a porteira ela está a me esperar
e com um longo beijo, não me deixa nem falar.
Aquele cheiro da flor de açucena,
nem acredito, é a minha morena.
Que mesmo distante sempre me esperou.
E que todo instante, sempre me amou.
Ela agora chorava de alegria,
agora porque voltei.
Ela olhava para mim e sorria,
dizendo eu te avisei.
“Eu sabia que você iria voltar”,
dizia ela a me abraçar.
O meu lugar é aqui no sertão,
é lá onde mora o meu coração.
Hoje estou feliz,
tendo a vida que sempre quis.
Precisei ir para a cidade,
para encarar a triste realidade.
Que a terra de verdade, é o meu sertão.
Hoje na varanda estou,
A lua alumiando nosso ninho de amor.
Hoje sou muito mais feliz, eu, meus filhos e meu amor!
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