Zé Coveiro não morreu

26/06/2021

“É mentira, boato, desse magote de desocupados!”. Com esta frase emblemática, José André (Zé Coveiro), 78, respondeu à pergunta do repórter, que o procurou para esclarecer o mal informado. Foi na própria residência dele no chamado ‘Beco do Cemitério’, onde Zé Coveiro mora com a esposa e filhos. Zé estava deitado, repousando. Era hora do almoço, por volta das 12h40 desta sexta-feira, 25.

Na quarta-feira, 23, espalharam maldosamente no meio da comunidade que Zé Coveiro havia falecido. Tudo mentira, ele sequer estava doente. Zé Coveiro disse que esta não foi a primeira vez que anunciaram sua morte. “Não sei nem quem foi, mas essa pessoa pode ficar tranquila que estou mais vivo do que nunca”, disse. De acordo com o ex-coveiro, naquele dia várias pessoas ligaram para o telefone dele, para saber se era verídico o fato. “Até um amigo meu foi lá para o cemitério, pensando que era verdade e queria ver meu enterro”, contou.

Sem medo

Natural do município de Pedra Branca, José André veio para Iguatu em 1960. Três anos depois, em 1963 começou a trabalhar como assistente de coveiro, com o sogro dele, o senhor Deoclécio. Depois, com o falecimento de Deoclécio, Zé Coveiro assumiu de vez o comando do trabalho (voluntário) de sepultamentos, no cemitério Senhora Santana. Com a implantação do cemitério ‘Parque da Saudade’, pela prefeitura, ele passou a prestar seus serviços lá também. O velho coveiro passou pelos momentos mais inusitados em sepultamentos. Enterro com pouca gente, sepultamento na chuva, falecido sendo enterrado à noite, porque o corpo não podia esperar para o dia seguinte e tantos outros casos. Zé Coveiro revelou que a pergunta mais dirigida a ele sempre foi: “O senhor não tem medo de, por exemplo, entrar no cemitério à noite?”. Ele sempre fez questão de responder dizendo que não, nunca teve medo e acrescenta: “Nunca vi nada, nunca ouvi nem um barulho, posso entrar a qualquer hora, sozinho ou acompanhado, nunca escutei nada”, lembrou.

Voluntário

Em mais de 50 anos trabalhou como coveiro, sendo voluntário. Não tinha salário fixo, nem encargos sociais recolhidos (INSS, FGTS), nunca tirou férias, nem recebia 13º salário nos finais de ano. Tudo que recebeu foi fruto de doações, que as pessoas, em geral, familiares dos falecidos ofertavam. Ao longo desses anos, Zé Coveiro disse que perdeu a conta de quantos sepultou. Talvez devesse entrar para os registros oficiais como o voluntário ‘coveiro’ que mais tempo permaneceu no mesmo cemitério trabalhando em sepultamentos. Não se tem notícia, em nível de Brasil, de nenhum caso semelhante. Vergonhosamente, a Câmara de Vereadores de Iguatu nunca se mobilizou para conceder a ele, um título de Cidadão Iguatuense. Vexame.

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